“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Batixa

A T é minha amiga, é minha prima e é uma blog hunter.

Tem um talento invulgar para descobrir blogs imperdíveis que eu não conheço e que nunca viria a conhecer na vida.

Batixa foi um dos que segui com mais fervor, sobretudo na altura em que me mudei para a casa da minha avó.

Apresenta imagens muito originais e reais de blogs de todo o mundo, incluindo portugueses.

Sem texto.

tumblr_mqul28bmPs1r4gct3o1_500[1]O meu pátio podia ser assim.

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A corda, as molas, as fotografias e os desenhos já cá andam há algum tempo.

Os bancos hão-de aparecer.

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A minha cozinha não é assim (preciso de dizer “infelizmente”?).

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A cozinha do forno da minha avó já está mais colorida.

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E móveis antigos recuperados também já cá estão.

N.B. Todas as imagens do blog Batixa.

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Midas de papel

Quando falei acerca das mãos de Midas da minha Mãe, houve quem me pedisse para explicar o título.

Achei que era uma excelente oportunidade de fazer uma pesquisa e contar a história.

Que saudades de pesquisar em livros…

Ultimamente parece que só há conhecimento nas fibras com nomes bizarros.

Informação há.

O Conhecimento continua à espera nos livros.

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Há muitas versões.

Optei pela de Ovídeo, nas Metamorfoses.

Muito resumidamente:

O rei Midas da Frígia protegeu Sileno, quando ninguém o reconhecia.

Sileno ficou tão reconhecido que lhe concedeu a concretização de um desejo.

Midas pediu que tudo aquilo em que tocasse se transformasse em ouro.

O deus Sileno concedeu-lhe esse desejo e Midas, como imaginam, ficou radiante.

(Era a esta passagem que me referia no post Midas).

Tudo correu bem até à hora de almoço.

Nessa altura, Midas apenas encontrava pedaços de ouro em tudo aquilo que levava à boca.

Esfomeado e desesperado, Midas implorou a Dioniso que o libertasse daquele “dom pernicioso”.

Dioniso acedeu e disse-lhe que lavasse a cabeça e as mãos na nascente de Pactolo.

Midas assim fez e, imediatamente, o dom o abandonou.

As águas do Pactolo ficaram carregadas de laminazinhas de ouro!

Parece que, segundo a lenda, este rio turco (que desagua no Mar Egeu) tinha as areias auríferas…

É incrível como os mitos, aparentemente tão simples, contêm tantas lições.

Por serem intemporais é que chegaram até nós e continuam a ser fascinantes.

É pena é que não haja tempo nem disponibilidade para ouvir histórias…


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Nova Primavera

O Outono é mesmo uma nova Primavera.

Só agora é que reparei: são ervas a rebentar por todo o lado, as frésias saíram dos bolbos; a rúcula está viçosa e a D.Adélia deu-me sementes para semear este mês.

Tenho de iniciar este novo ciclo.

Em Maio, comprei acelga, alface, tomate, batata doce, rúcula, beringela, abóbora e courgette.

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Agora tenho na minha lista “A plantar”: couve, nabiça, alface e acelga.

É a segunda vez que convido a acelga para o meu pátio e para o meu prato.

Costumo cozinhá-la na sopa ou salteada mas também pode ser preparada em saladas.

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Por vários motivos, afastei-me do pátio e só agora é que me apercebi da falta que me faz o cheiro e o toque da terra. Reposiciona-me.

O Homem nunca pertenceu aos ecrãs, aos carros, às máquinas, aos filamentos eléctricos e aos metais, mas sempre pertenceu à terra.

É fácil reencontrar essa ligação milenar quando se planta.

Mesmo que seja uma simples acelga.


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Pêras de Inverno

A minha família já não vindima.

As vinhas foram abandonadas, vendidas, cedidas.

Pereiras e vinha

Essas memórias de infância estão guardadas no meu frasco mais colorido.

Quando a minha Mãe me perguntou se eu queria apanhar as pêras dessas vinhas fiquei admirada.

Não tinha memória das pereiras. Destas pereiras seculares, com olhos, nariz, boca e longos cabelos, e que, por serem seculares, dão frutos com um sabor de outro tempo. Quando a fruta sabia ao que era.

árvore com olhos

árvore com olhos e cabelos

Há muitos anos, antes das câmaras frigoríficas, havia culturas de Verão e de Inverno e havia a preocupação de ter fruta todo o ano. As pêras de Inverno ou francesas eram uma óptima solução.

Hoje é difícil saber qual é a época certa da fruta: há sempre inúmeras variedades no supermercado.

Depois da vindima, apanhavam-se estas pêras magníficas que ficavam no sótão e duravam até Fevereiro.

balde e botas

Eu não me lembrava das pereiras, mas lembrava-me do sabor destas pêras.

Aliás, este é o meu arquétipo de pêra.

pêra na erva

Esta é pêra do meu mundo inteligível.

Era o sabor que eu guardava no meu frasco de infância, tão colorido e definido.

Claro que não andaram apenas as minhas botas à volta das pereiras. Andaram também os sapatos do meu Pai e as botitas da Beatriz.

Foi o melhor dia dos últimos tempos.


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O Bebé

Este livro, de 1972, é um dos livros da Biblioteca que já requisitámos mais vezes.

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Não sei até que ponto a Beatriz percebe o que este bebé anda a fazer dentro da barriga da mãe, mas gosta muito deste livro e fica sempre muito atenta quando eu faço o paralelo com a nossa história.

Este bebé, como qualquer outro que vive dentro do útero da mãe, anda tranquilo e feliz, até que percebe que, um dia, todos esperam que ele nasça.

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Todos os elementos da família tentam convencê-lo com programas e estratégias mais ou menos aliciantes.

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Até que o pai chega e traz o Beijo…

A história, da americana Fran Manushkin, fala-nos do Amor e da forma de vida mais pura que existe: a do bebé.

A ilustração, do premiadíssimo Ronald  Himler, a preto e branco, ganha um destaque inesperado no fundo ocre que surge em cada duas páginas.

As personagens lembram-nos uma época já passada, mas são extremamente expressivos. Recordam-nos que os sentimentos de que nos fala o livro são universais e intemporais.

E é esse também o encanto deste livro!

A editora: a extinta Sá da Costa.


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Ternura

Em Julho, a minha amiga Palmira trouxe-me um gatinho.

Fiquei zangada e devolvi o bichinho:

-Passo sempre o mês de Agosto fora de casa;

-Tenho a vida muito instável;

-Não tenho tempo para tratar do bichinho,…

Dois meses mais tarde, quando cheguei a casa, no final das férias, tinha uma gatinha à porta.

Não lhe liguei muito, mas houve quem ligasse…

A Beatriz perdeu-se de amores e baptizou-a: Branca.

Continuei sem dar muita importância.

Entretanto, a Branca impunha-se e eu lembrava-me do poema de Carlos Pinhão:

Era um gato com tanta personalidade

com tal raça

tal centelha

que toda a gente dizia:

-Era uma vez um gato que tinha uma velha.

Gosto muito de gatos, mas as razões que tinha dado à Palmira continuavam válidas e eu pensei numa relação sem compromisso com a Branca.

A Branca e a Beatriz são uma nuvem de ternura.

E comecei a gostar de ver como a Branca se presenteia com o sol ao lado da grande amiga.

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Hoje de manhã a situação descontrolou-se.

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E agora?


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Criaturas das crateras

Em 1998, José Saramago discursou perante os membros da Academia Sueca acerca das incongruências do ser humano.
Afrontava-o o júbilo em que se vivia por se ter colocado uma sonda em Marte, quando em Terra tínhamos o caos e a fome. Não me lembro se citava especificamente o caso de África ou de outro continente.

Houve quem o acusasse de não valorizar a ciência.

Houve quem ficasse incomodado.

Houve quem não o compreendesse.

Quinze anos mais tarde, leio, no Público, que se inscreveram 150000 pessoas, para 24 vagas, num projecto que pretende iniciar a colonização do planeta Marte.
Um projecto de seis biliões de dólares (o que quer que isso seja)…

E voltei às palavras de Saramago. Cada vez mais sábias.

Razões para querer sair da Terra não faltam… mas o que motiva estas 150000 pessoas?

E os financiadores do projecto?

Tal como Vítor Belanciano, do Público, fiquei espantada:
“Estranho mundo onde os audaciosos são os que idealizam paraísos distantes, parecendo acreditar na fundação de sociedades sem conflitos, como nunca existiu, nem existirá. Enquanto quem deseja transformar a realidade mais premente, aqui e agora, com a consciência de que onde há pessoas haverá sempre tensões, mas também a possibilidade de justiça, da equidade e da promoção de novas ideias, é relegado para a posição de desejar o impossível.”

Vítor Belanciano (Público, 1 de Setembro de 2013)

A propósito, as inscrições para habitar Marte terminaram a 31 de Agosto.

Eu prefiro conviver com estas criaturas das crateras.

Não devem ser muito diferentes e estes bichos são muito mais divertidos do que os 24 que partem na nave espacial.

E já foram domesticados pela Beatriz.

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A casa da actriz

Mudança rima com insegurança.

No meu caso, mesmo quando o entusiasmo e a alegria tomam conta de mim, a apreensão permanece latente.

Quando a mudança é imposta, a apreensão deixa de ser dissimulada e mistura-se com angústia e ansiedade.

A minha adaptação aos locais, às pessoas, aos projectos, é lenta e gradual.

Geralmente, também é profunda.

Com estas características, como é que sobrevivi a 17 mudanças compulsivas de casa?

Com angústia, na adaptação; e com angústia, no momento da despedida.

Houve casas, com um espírito tão forte e tão apaixonante, que saltei a primeira “angústia”.

A casa da minha Avó Rosa é o caso perfeito desse sentimento.

Mas nem incluo esta casa no rol das mudanças, foi um regresso. A casa onde fui sou pequenina.

Uma casa nova implica uma mudança de cenário, uma nova personagem, uma representação de uma peça desconhecida, cheia de imprevistos e peripécias.

Ao longo de 17 casas, representei muitos papéis, contracenei com muitos actores, vivi muitas vidas, brilhei e sucumbi a vários desfechos.

Agora, acertei no meu cenário e protagonizo o meu melhor papel.

Este foi o cenário onde comecei a ensaiar.

Foi na torre, em Avis, que vivi os primeiros meses de gravidez.

Durante alguns meses, estive, de facto, mais perto do Olimpo.

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O nome da minha filha.

Só para tranquilizar-vos: quando referi as mudanças excessivas de casa e usei a palavra “compulsivas” não significa que sofra de uma perturbação que me leve a andar sempre a fazer e a desfazer malas  e caixotes; foi mesmo por obrigação profissional e, poucas vezes, pelas circunstâncias da vida.


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Totoro

Totoro, de Hayao Miyasaki, é um filme de culto da Beatriz. E meu.

Vimo-lo mais de 100 vezes.

Partilhei, com grande prazer, a primeira hora do filme, nas primeiras 50 visualizações.

Encanta(m)-me:

– a originalidade e inteligência evidentes na construção da narrativa;

– a forma como é transmitida a passagem do tempo;

– a evolução da relação entre as personagens: os afectos crescem de forma naturalmente contida, mas profunda;

– o facto da música caracterizar as personagens;

– os mundos mágicos criados pelas irmãs e reforçados pelo pai;

– as imagens e as cores: sempre que primo a Pause, a imagem que fica no ecrã podia ser a página de um livro infantil;

– as protagonistas: o facto de serem meninas é irrelevante; contêm a essência das crianças;

– o realizador e todos os filmes que já realizou;

– o Studio Ghibli.

O que mudou nas nossas vidas:

– sabemos dizer bolota, esquilo e cânfora em japonês;

– o Totoro visita o nosso pátio e é responsável pelo crescimento das plantas;

– agradecemos aos espíritos do pátio que nos protegem;

– fazemos danças estranhas quando acontece alguma coisa que nos agrada especialmente;

– desenhamos Totoros por todo o lado.

Resumindo, somos fortes candidatos a um internamento compulsivo no manicómio…

E estou ansiosa por reincidir: