A minha família já não vindima.
As vinhas foram abandonadas, vendidas, cedidas.
Essas memórias de infância estão guardadas no meu frasco mais colorido.
Quando a minha Mãe me perguntou se eu queria apanhar as pêras dessas vinhas fiquei admirada.
Não tinha memória das pereiras. Destas pereiras seculares, com olhos, nariz, boca e longos cabelos, e que, por serem seculares, dão frutos com um sabor de outro tempo. Quando a fruta sabia ao que era.
Há muitos anos, antes das câmaras frigoríficas, havia culturas de Verão e de Inverno e havia a preocupação de ter fruta todo o ano. As pêras de Inverno ou francesas eram uma óptima solução.
Hoje é difícil saber qual é a época certa da fruta: há sempre inúmeras variedades no supermercado.
Depois da vindima, apanhavam-se estas pêras magníficas que ficavam no sótão e duravam até Fevereiro.
Eu não me lembrava das pereiras, mas lembrava-me do sabor destas pêras.
Aliás, este é o meu arquétipo de pêra.
Esta é pêra do meu mundo inteligível.
Era o sabor que eu guardava no meu frasco de infância, tão colorido e definido.
Claro que não andaram apenas as minhas botas à volta das pereiras. Andaram também os sapatos do meu Pai e as botitas da Beatriz.
Foi o melhor dia dos últimos tempos.
28 de Outubro de 2013 às 22:55
Ana,
Muito engraçada esta tua descrição.
Dá que pensar… que bom poderes continuar a usufruir estas vivências.
A pereira com “cara ” é espantosa !
As peras devem ter o sabor a pera !
Parabéns a toda a equipa “apanha peras “.
Beijo
José
28 de Outubro de 2013 às 23:17
Pêra !!!!!
😉
29 de Outubro de 2013 às 19:56
Há vivências que só são possíveis se fugirmos da cidade.
Apesar de por vezes me interrogar, cada vez estou mais satisfeita com esta opção…
A equipa apanha pêras chegou à noite cansada mas muito satisfeita 🙂
28 de Outubro de 2013 às 23:04
Gostei muito da “cara” das pereiras e do aspecto delicioso das pêras. Que desfrutem destes momentos durante muitos anos. 🙂
29 de Outubro de 2013 às 19:56
🙂 São as pêras mais deliciosas que já provei na vida. Verdade!
29 de Outubro de 2013 às 10:55
Nos terrenos que herdei dos meus avós/pais, também existem duas pereiras, mas são das que produzem no final da primavera. Só que normalmente os bichos tomam conta delas antes que eu possa ir apanhar…
Mas há uma árvore mítica, que recordo desde a infância que é a romanzeira e após anos e anos debaixo do silvado, mandei limpar tudo e eis que descubro que a romanzeira ainda está lá e até tem romãs. Espero sábado que vem ir apanhar, se a chuva não deu cabo delas 🙂
30 de Outubro de 2013 às 17:18
Que bela surpresa: uma romãzeira!
29 de Outubro de 2013 às 13:08
Nunca me tinha apercebido que as árvores podem ter caras. As fotos são lindíssimas! 🙂
29 de Outubro de 2013 às 19:57
🙂
29 de Outubro de 2013 às 14:05
Adorei o cheiro e o sabor das pêras!
Que bom termos tudo isto guardado!
Uma das coisas que mais gosto na minha vida é ter tido a sorte de ter nascido e vivido no campo!
Aquela questão que abordas-te um dia destes do ritmo do tempo, é muito mais simples estar no ritmo certo ou mais próximo dele, no campo, mais junto da natureza…
Profunda saudade da terra, do seu ritmo, do seu cheiro, das suas cores, da sua continua renovação…
29 de Outubro de 2013 às 20:01
É completamente verdade, Bertita!
A Natureza tem um ritmo certo, nós é que acelerámos e agora andamos perdidos com tanta velocidade… Voltar à terra fez-me muito bem (apesar de nem sempre conseguir contrariar o ritmo dos Homens)!
30 de Outubro de 2013 às 3:35
Tenho acompanhado os teus artigos com especial interesse mas esta é a primeira vez que comento. Gostei do texto, claro, e gostei das fotos, que estão francamente boas, sobretudo a do balde visto de cima com o cantinho das botas em baixo. Mas o que gostei mais foi a tua última frase e imagino mesmo que tenha sido o melhor dia dos últimos tempos, não porque os outros tenham sido maus, mas porque este teve algo que é extremamente raro e, por isso mesmo, extremamente precioso e que lhe confere um gosto indizível. Tenho a certeza que percebes exactamente onde eu quero chegar…
30 de Outubro de 2013 às 17:19
😉 Faltaste tu!
30 de Outubro de 2013 às 12:17
Oi, Ana, que linda árvore, imagino o gosto espetacular que o fruto deva ter. Certamente, tem um sabor todo especial, regado por boas lembranças. Lembro que, quando pequena, íamos a uma chácara perto do sítio de meus pais apanhar caquis. Subíamos nas árvores e muitas vezes não conseguia carregar os sacos que ficavam super pesados. Foram os caquis mais deliciosos que já comi na minha vida! Beijo
30 de Outubro de 2013 às 17:21
Tive de ir pesquisar: um caqui é um dióspiro? São estes momentos que habitam a nossa memória.
2 de Novembro de 2013 às 18:35
Eu adoro peras minha cara, mas confesso que cá está difícil encontrar peras com sabor.
Não sei o motivo. Ou são duras demais, e eu prefiro as macias. Ou são macias e sem gosto.
Não tento entender, talvez seja a maneira como são cultivadas, como bem disse está difícil saber o tempo das peras e dos morangos.
Mas, confesso, não imaginava existir arvores de pera. Sempre as pensei rasteiras, como as melancias. rs
bacio
2 de Novembro de 2013 às 23:31
Por aqui é difícil encontrar sabor na maior parte dos frutos das grandes superfícies. Impera a total falta de respeito pelo ritmo da Natureza no cultivo e na apanha… Vale-nos a produção caseira.
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13 de Março de 2015 às 0:44
Olá eu e o meu pai adoramos esta descrição em relação a pereira, o meu pai também se recordou da infancia dele a comer este tipo de pera. O meu pai gostaria de comprar uma pereira destas, sabe aonde se pode obter a compra da pereira de inverno??obrigado Tania
13 de Março de 2015 às 12:47
Olá Tânia!
Estas pereiras são mesmo antigas (um século de vida, provavelmente): funcionavam quase como marcos para separar as vinhas.
A minha Mãe comprou numa feira daquelas que ainda se fazem semanalmente/mensalmente nas vilas perto da Figueira da Foz uma pereira de Inverno (ou pêra francesa): cresceu e já deu pêras; mas em relação ao sabor não tem nada que ver com o sabor das pêras destas pereiras antigas: não sei se será a qualidade ou a idade.
Se a Tânia viver perto da Figueira da Foz e o Pai quiser fazer um enxerto duma destas pereiras antigas, talvez possamos combinar.
De outra forma, só mesmo procurando em feiras e viveiros a tal pereira francesa.
Um abraço,
Ana
30 de Abril de 2015 às 10:12
Não é uma resposta, mas como é que consigo arranjar uma pereira dessa qualidade?
30 de Abril de 2015 às 11:51
Olá Sr. Hilário:
Só mesmo numa feira daquelas que ainda se fazem semanalmente/mensalmente em algumas vilas do país e encomendar uma pereira de Inverno (ou pêra francesa).
Há viveiros que ainda têm a pereira francesa.
Boa sorte!
Depois diga-me se foi bem sucedido!
25 de Maio de 2015 às 11:57
Se souber onde está uma pereira dessas e eu pudesse tirar um ramo para arranjar dois ou três garfos para depois na altura pedir para enxertar
25 de Maio de 2015 às 12:55
Na Figueira da Foz!
É de onde?
9 de Setembro de 2017 às 12:00
Bom dia,
Tenho uma pereira com mais de 40 anos, cujas pêras me parecem iguais ás sua pêras de inverno sabe dizer qual é o nome destas pêras? ou como obter essa informação? obrigado. Rui Costa
13 de Setembro de 2017 às 14:37
Boa tarde, Rui:
Estas pereiras já são, de facto, antigas. Na zona, são conhecidas como pêras de Inverno; mas nos pomares actuais chamam-lhes pêra francesa.
Já provei a pêra francesa actual, mas não achei bem igual… provavelmente, estas pereiras antigas são variedades que se vão perdendo.
Ana
13 de Outubro de 2018 às 2:26
Boa noite,
Ando há anos à procura de uma variedade de pêra que o meu avô tinha, que num dia de grande temporal uma derrocada do muro adjacente destruiu 😦
O aspecto é esse, e a altura de produção também!
Seria possível obter um ramo para fazer uns enxertos pf?
Obrigado
13 de Outubro de 2018 às 21:36
Boa noite, José:
As pereiras encontram-se num terreno, agora abandonado, na Figueira da Foz.
Eu vivo no Alentejo, mas posso dizer-lhe onde fica, se estiver interessado.
Esteja à vontade!
Ana