“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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2014 sem nozes

Há muitos anos, quando era pós-adolescente, li o Auto da Alma de Gil Vicente.

Fiquei impressionada: uma Alma, no seu percurso pela Terra, sem conseguir acompanhar o Anjo que a guia.

Pesam-lhe os vestidos, os sapatos, as jóias e os espelhos.

Diz-lhe o Anjo:

“pompas, honras, herdades e vaidades,

são embates e combates para vós.”

Impedem a Alma de tornar-se “gloriosa”, apesar de lhe ter sido concedido “o livre entendimento, a vontade libertada e a memória”.

Lembro-me muitas vezes desta Alma, sobretudo quando ocupo a mente com futilidades ou quezílias.

Ultimamente, tenho regressado, muito devagar, a um dos meus grandes prazeres: ler.

E reencontrei o tema.

Com Afonso Cruz.

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– A boca do paraíso é a boca de um frasco. […] Sabe porquê? Por causa do macaco. Imagine um frasco de nozes. O macaco não tem dificuldade em meter lá a mão, mas quando pega nas nozes não consegue tirá-la. Terá de largar as nozes para ser livre. E o paraíso é assim, temos de deitar fora as nozes e mostrar as nossas mãos vazias.

-Há que evitar as nozes. […]

-Isso. As nozes é que não nos deixam ser livres. São as nossas gaiolas.

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E eu desejo um 2014 sem nozes!

Com muitos livros.

Livros para adultos, com ilustrações.

E belos trinados de pássaros!

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O livro e as ilustrações são de Afonso Cruz.

As fotografias da loja Wook e do blog Prosimetron.

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Coração

Quando mudámos para Estremoz, para além de todas as preocupações próprias de quem muda para outra cidade a 300km, não parei de pensar nos meus gatinhos.

Numa primeira viagem, não consegui trazê-los e valeram-nos/lhes a D.Adélia, de manhã, e a minha Mãe, ao fim da tarde.

Levavam-lhes alimentos e carinho, mas eu sabia que eles estavam habituados a outras mordomias que eu nem sempre conseguia evitar…

gatinhos na cama

Felizmente não estava sozinha e a minha Mãe andava a pensar que estes gatinhos mereciam mais do que duas visitas diárias.

A D. Vitalina gostava de ficar com o Tito.

tito

Pensando bem, até poderia ficar com a Tita, também.

titos

E os dois irmãos já tinham uma casa cheia de afecto que os recebia.

E eu lembrava-me da Pretinha das meias brancas, a única separada dos irmãos, quando a D.Vitalina disse:

-E a pobre da irmã fica sozinha? Nem pensar. Também fica comigo!

Pretinha

Preciso de dizer como fiquei feliz?

Não podia ser melhor: os três gatinhos juntos, numa família que tem condições e vontade de ficar com eles!

E eu cheguei à conclusão que admiro muito as pessoas que colocam o coração à frente das suas conveniências…


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BabyAvedouda

Quando a Beatriz nasceu, já não havia bebés na minha família há mais de dez anos.

E eu nunca tinha mudado uma fralda ou dado banhinho.

Foi assustador: o bebé de plástico a quem tentei dar banho nas aulas de preparação para o parto sofreu.

E eu também, porque não me entendia com aquela frieza dura.

Milagrosamente, a Beatriz nasceu e, como seria de esperar, todas as mães que existiram antes de mim deixaram cá os genes.

Com o meu bebé, essas questões práticas resolveram-se tão naturalmente que deixaram de ser questões.

Foi-me mais difícil gerir o choro e conciliar todas as tarefas que tive tenho de acumular.

Durante a gravidez, como todas as mães, fiz cuidadosamente o enxoval da Beatriz.

Enxoval cheira a pó de talco, creme de bebé e roupa lavada e havia fitas de cetim de cores suaves.

E o branco predominou. Predomina.

Nunca quis a Beatriz com muito cor-de-rosa, afundada em folhos e rendas.

Queria quero a minha filha confortável e bonita, mas é-me impensável vesti-la de forma a que uma peça de roupa se sobreponha à sua beleza.

Fiquei encantada quando a minha tia Berta me visitou na maternidade e levou uma fralda com este Capuchinho Vermelho.

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E fiquei fascinada com todas as peças feitas pela Alexandra, a criadora da BabyAvedouda.

Quando nasce um bebé é nesta ilustração em tecido que penso.

Ou neste babete.

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Ou neste álbum.

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E nestes lençóis.

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E tudo me cheira novamente a pó de talco, roupa lavada e Feno de Portugal.

Todas as imagens pertencem à Alexandra.

A Avedouda e a BabyAvedouda estão presentes na Etsy, no Facebook e no blog.


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Parabéns bebé Jesus

Entre os canteiros de erva-cidreira, as roseiras de Inverno e uma visita ao mercado, conseguimos arranjar flores.

Para ti!

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Vamos todos cantar os Parabéns ao bebé Jesus!

E arranjar um bolo para Ele soprar as velas!

Indicações da Beatriz que nos recordam a verdadeira celebração desta noite.

Feliz Natal!


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Verde

Nos últimos três anos atravessei diariamente os campos do Mondego.

Via o coração de Montemor-o-Velho e sentia-me protegida.

coração Montemor

Apesar do cansaço de duas horas diárias de viagem, enchia os olhos de verde.

Maiorca Cegonhas

E ouvia as crónicas da Antena 1.

À Sexta-feira, Gonçalo Cadilhe falava de viagens, grandes viagens solitárias pelo mundo.

Até que as crónicas emudeceram e começaram as mudanças.

Tudo porque outro cronista, o jornalista Pedro Rosa Mendes, referiu que Angola precisava de importar respeitabilidade.

Acrescentou outras verdades que caíram mal a quem tem interesses muito respeitáveis em Angola.

Até que há pouco tempo estalou o verniz desta amizade entre Angola e Portugal e já não se sabe bem quem é que precisa de importar respeitabilidade.

Portugal arquivou o processo que investigava o vice-presidente de Angola: nada se sabe acerca da transferência misteriosa de 14000 euros para a conta deste político. Uma prenda de Natal…

Arquiva-se e pede-se desculpa pelo desacato.

A bem da nossa digestão, regresso a Gonçalo Cadilhe.

Num programa sobre viagens de comboio, o viajante referiu os melhores carris e as mais belas paisagens.

E, como figueirense que estudou em Coimbra, apontou (também) o percurso Figueira-Coimbra: os campos de arroz, as salinas da foz e as recordações douradas da juventude.

Todas estas razões fazem deste percurso um dos mais bonitos que eu conheci.

Quilómetros de um verde de tal forma luxuriante que durante duas horas esquecia indigestões e restabelecia o meu lugar, enquanto ser humano, no Mundo.

Maiorca


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KO

Quem já veio a minha casa sabe que eu não tenho televisão; e que encerrei a televisão da minha Avó Rosa num canto escuro do sótão.

No entanto, às vezes, tenho o azar de ser atingida por uma televisão alheia.

Por momentos, fico hipnotizada por quem julga ser dono da verdade e fala de forma tão convincente que (quase) todos julgam que ele, por poder divino, transmite mesmo a verdade.

Rentes de Carvalho, no blog Tempo Contado, fala deste triste fenómeno:

Adivinhos

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Em bruxas só os simples acreditam, e as pitonisas vivem escondidas na Mitologia, mas muito se lhes assemelham os comentadores políticos.

Inchados e fátuos, como se tudo soubessem e adivinhassem o resto lendo nos astros, explicam-nos eles o que o presidente tem na ideia, o que os ministros preparavam mas esqueceram, o que presidente Obama devia ter dito à chanceler da Alemanha, o que a Rússia anda a conversar com a China. Entoaram loas ao engrandecimento e enriquecimento do Brasil, dizem agora que há muito sabiam as razões porque nele seriam abaladas a “Ordem e Progresso”.
Aborrecida, cansativa gente, a papaguear horas, convencida de estar no segredo dos deuses. E então as vozes. Umas de tom paternalista, outras em modo de homilia, algumas severas, a avisar que a posse da verdade não admite discordâncias nem oposições.
Por hábito antigo acordo às seis e ligo o rádio. Esta manhã, às seis e meia estava KO e desliguei, enfartado para o resto do dia, moído de crises, revoluções e adivinhos.
O post está aqui.
Os adivinhos calam-se se premirmos o off.


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Presentes sonhados

Na sequência das prendas possíveis, seguem as prendas sonhadas.

Gostava tanto de oferecer:

1-Bolachinhas-foguetão feitas por mim.

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2-Um bolo de abóbora.

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Estas duas iguarias roubadas ao blog inspirador destes posts de presentes natalícios: A Cup of Jo.

3- Livros de Afonso Cruz e de poesia. Já ofereci no ano passado, mas este ano é mais difícil.

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4- Uma serigrafia de Ana Ventura.

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5- Este gorro para o meu Pai (adora andar de bicicleta e de mota e, obviamente, tem um bigode e muito sentido de humor).

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6- Estes aventais de ilustradores portugueses.

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7- Postais escritos por mim e pela Beatriz.

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8- Esta lancheira. Está aqui .

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9- Os nossos sósias da Matilde Belbroega.

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10- Uma grande viagem. Assim como a da Ana Botezatu.

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Prendas possíveis

No blog A Cup of Jo, li várias sugestões de Natal e fiquei com vontade de escrever um post sobre as minhas prendas de Natal.

Vou já estragar a surpresa mas, desde que a crise se instalou, passei a ser muito mais criativa e as prendas ficaram personalizadas e, penso eu, muito mais interessantes.

Neste Natal, o presente incontornável vai ser…

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… um Frasco de Memórias.

No ano passado, como me iniciei na atividade agrícola, todos os meus presenteados receberam ervas-aromáticas.

Hortelã-chocolate e tomilho-limão.

aromáticas

Outro clássico do Natal: azeite alentejano.

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E queijos alentejanos.

queijos

O presente que me ofereço sempre: plantas.

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Reconciliei-me com o nome Érica desde que me ofereci este arbusto.

E o presente mais estranho de todos, a não ser que se tenha nascido a 20 metros do mar: flor de sal.

sal

Quando penso na minha recente obsessão pelo sal de qualidade, apaziguo-me sempre com duas histórias:

-a origem da palavra “salário” –  era o pagamento dado aos soldados romanos e que comprova a importância do sal na nossa História (um dos mais importantes métodos de conservação dos alimentos);

– e um conto tradicional muito conhecido: o pai pergunta às três filhas o tamanho do seu amor. A mais nova responde que gosta do pai como gosta do sal. Pai furioso, filha expulsa. A filha anda perdida até que regressa a casa disfarçada de cozinheira. Prepara um banquete maravilhoso aos pais e aos convidados. Sem sal. O pai aprende a lição e a filha é recebida com todo o amor!

Por fim, também não costumam faltar as fotografias!

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Esta é a minha Avó Rosa, com 3 anos, em 1927.

Já está em casa da minha Mãe e do meu Tio.

E uma relíquia da Feira das Velharias, como esta que me foi oferecida e que pertenceu à Avó de uma Avó.

Prato velho

Hei-de escrever um post com os presentes que eu gostava de oferecer, mas que provavelmente não vão concretizar-se…


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A grande fábrica de palavras

A grande fábrica de palavras  foi comprado para mim.

Título

Com a excelente desculpa de que era para a Beatriz.

Às vezes valho-me de subterfúgios para trazer livros para casa.

Como gosto tanto dele, consegui transmitir esse encanto à Beatriz e é um dos nossos livros favoritos.

Viajamos até um país onde as pessoas quase não falam, é o país da grande fábrica de palavras.

Todos os habitantes têm de comprar e engolir as palavras para pronunciá-las.

1ªpágina

E nós inventamos logo muitos diálogos entre estas personagens tão expressivas.

Como as palavras são levadas pelo vento, as crianças apanham-nas com redes de borboletas.

E este é só um dos pormenores absolutamente poéticos do dia-a-dia neste país.

Página2

Até que conhecemos o Filipe e a Sara.

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O Filipe está apaixonado pela Sara, mas não tem dinheiro para se declarar, ao contrário do Óscar, cujos pais são muito ricos.

página 3

Mas é o Filipe que conquista o coração da Sara…

página 4

É um livro tão perfeito e com imagens e mensagens tão intensas que estou certa de que foi um bom investimento… para a Beatriz.

O texto é de Agnès de Lestrade e as ilustrações de Valeria Docampo.

A editora: Paleta de Letras.


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Menina

Quero ter o cabelo comprido para fazer penteados.

Já tenho.

Agora falta-me a paciência, o tempo e a disposição…

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Trabalho de casa para o fim-de-semana: treinar estes tutoriais do blog  A Cup of Jo.

O trabalho de casa revelado nestas fotografias são desse blog.