Os nossos pais viveram sempre na mesma cidade.
Nós precisamos de nos situar geograficamente se falamos ao telefone.
Quando éramos pequenos, corríamos pelo pátio, pelos quintais, atrás das risadas e dos chilreios.
Agora continuamos a correr, sempre atrasados, sempre em urgências.
Dantes falávamos de viagens, projectos, sonhos e pequenos luxos.
Hoje falamos da crise, da precariedade dos nossos empregos; evitamos os projectos adiados e já nem referimos os sonhos adormecidos.
O que aconteceu ao brilho que nos antecedia?
O que está a acontecer à nossa pátria que, como diz o Caetano, devia ser mátria?
Tomai lá do O´Neil
Para todos os primos da minha geração: Nós não somos os perfilados de que fala O´Neil!
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Perfilados de medo
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Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
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Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que fomos, do que não seremos.
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Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
–
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido.
27 de Janeiro de 2014 às 21:42
agora, fiquei sem palavras… e é difícil, para mim, ficar nesse estado.
28 de Janeiro de 2014 às 16:58
Este blog costuma ser luminoso, mas também por aqui aparecem dias de lucidez… e cinzentos.
Um beijo!
28 de Janeiro de 2014 às 0:01
Ana,
…”a correr, sempre atrasados, sempre em urgências”…
Gostei muito deste teu post !
Concordo com tudo . Passamos a vida a correr e perdemos (muitas ) das coisas engraçadas e mais simples e bonitas da vida.
Dá que pensar.
Daí eu falar tanto de “vidinha no campo “.
Olha Ana,um beijo.
José
28 de Janeiro de 2014 às 17:02
José,
já não vivo no campo.
Estremoz é uma cidade; alentejana, mas cidade 😉
Falta-me tratar do pátio para ficar com um cantinho verde.
Mas há dias em que não me agrada mesmo nada o rumo deste país e dos primos da minha geração.
Amanhã, há-de brilhar o Sol!
Beijo,
Ana
28 de Janeiro de 2014 às 0:03
Vai para ti !
28 de Janeiro de 2014 às 17:02
Só a Elis me compreende!
28 de Janeiro de 2014 às 15:19
A vida dá e tira.
Normalmente corta no tempo do que é bom e é uma mãos largas no que dispensamos.
Se não fosse assim será que daríamos valor ao bom do mundo?
Cabe a nós, parar pensar e abrandar. Olhar para o lado pois a paisagem deve também ser apreciada.
Os textos são como quadros, e eu interpretei o teu assim.
Beijinhos
28 de Janeiro de 2014 às 17:04
É tudo verdade, Maria!
Às vezes, é muito difícil abrandar e olhar para a paisagem.
Gosto da ideia dos textos serem quadros 😉
Beijinhos,
Ana
28 de Janeiro de 2014 às 16:55
A minha avó dirá que é a vida, mas por vezes fico angustiada com estas mudanças todas. :S
28 de Janeiro de 2014 às 17:05
Também eu; é mesmo a palavra – angustiada!
28 de Janeiro de 2014 às 18:37
Ana, gostei muito das reações. Já é um bom começo para que tudo melhore.
Um beijo.
Manoel
28 de Janeiro de 2014 às 19:22
Sempre houve perfilados, em todas as gerações. E custa muito, quando são os ‘nossos’…
O medo perfila as pessoas, mas eu acho que é sobretudo a falta de exemplos positivos e elevados e o vazio de (bons) estímulos e referências.
É importante contrariar esta apatia geral, este estado do ‘tem que ser assim’ – por isso é que este blogue é tão bom! 🙂
28 de Janeiro de 2014 às 22:51
É toda uma geração perfilada, porque nos podem tirar o trabalho, o sustento,… e parece que nos esquecemos que nunca nos podem a liberdade de pensamento e que, ainda, temos liberdade de expressão.
Vamos organizar uma legião para contrariar a apatia!