“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Para te manteres vivo

A Lunna “não perdeu o hábito de escrever missivas”.
Envia-me todos os Domingos um poema.
Lucky me!!!
                                                                                                                      .
Mudança de Estação
                                                                                                                      .
para te manteres vivo – todas as manhãs
arrumas a casa sacodes tapetes limpas o pó e
o mesmo fazes com a alma – puxas-lhe brilho
regas o coração e o grande feto verde-granulado
                                                                                                                     .
deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio – uma terra
necessitada de águas de sons de afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
                                                                                                                   .
passa um bando de andorinhões rente à janela
sobrevoam o rosto que surge do mar – crepúsculo
donde se soltaram as abelhas incompreensíveis
da memória
                                                                                                                    .
luzeiros marinhos sobre a pele – peixes
que se enforcam com a corda de noctílucos
estendida nesta mudança de estação
                                                                                                                      .
al berto

Horto de Incêndio, 1997

.

mimicheers Manger                                                                                                                   .
Cheers!
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Aniversários

Desde que a Beatriz entrou para o Pré-escolar, são frequentes os convites para as festas de aniversário.

Nada contra, tudo a favor: eu gosto de celebrar e de festas com amigos e a Beatriz herdou esse espírito festeiro.

A questão são mesmo os presentes: até agora o nosso recorde foram 3 festas de aniversário num sábado, felizmente no mesmo local…

Por todos os motivos, temos evitado comprar presentes e, enquanto a Beatriz se sentir bem com isso, oferecemos uma prenda feita por nós.

Rosa e as bolachas

Têm sido bolachas: para as meninas.

Rosa Avô e as bolachas

E bolachas para os meninos.

bolachas para as crianças

E um frasco de doce de progenitores para progenitores, porque acho que sempre que um filho faz anos há também uns pais que estão de Parabéns.

embrulhos para bolachas artesanais

As imagens de fundo são de uma colecção de que nós gostamos muito e que aborda, de forma muito acessível, questões existenciais profundas: o Elmer.

sacos de aniversário

 


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Suspiros

– E gostas de viver no Alentejo?

– Gosto… mas é preciso aprender a viver em Estremoz.

Há muitos exemplos corriqueiros:

  • não se torce o nariz a carne de porco;
  • não se pode esperar cumplicidade ao suspirar, com saudades, por um peixinho grelhado com batata cozida;
  • mantem-se uma certa cerimónia nos relacionamentos, mesmo que já íntimos;
  • não se espera que o homem cozinhe e estenda a roupa com toda a naturalidade;
  • não se pode esperar que os alentejanos sejam todos ateus\comunistas: a larga maioria das pessoas que conheço nas cidades do Alto Alentejo – Portalegre, Elvas e Estremoz são, inequivocamente, católicas e de direita;
  • não se diz que os doces conventuais alentejanos são demasiado… doces;
  • não se recusa um suspiro.

suspiros alentejanos 2

A Avó Silvana faz estas maravilhas light e, escusado será dizer, que bombardeia, com frequência, qualquer tentativa de dieta ou restrição de açúcar.

Com quase 89 anos já tem o estatuto de dizer o que quiser…

até que os bolos nem engordam muito.

E esta mulher do litoral o que faz?

Compra morangos ou frutos vermelhos e come suspiros com fruta…

para não engordar tanto!

Bem… a lógica é a mesma da da Avó Silvana!

Ingredientes:

6 claras e 0,5kg de açúcar;

raspa de limão (presente nos apontamentos da Avó, mas opcional).

Suspiros crus

Preparação:

Bater os ingredientes até a mistura ficar muito firme.

Alourar no forno.

suspiros alentejanos

O grande problema é que ficam mesmo muito bons, leves e estaladiços!


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Sem glúten

A Dina é Mãe do meu querido … sobrinho-neto (!!!) e pediu-me para partilhar algumas receitas.

Fiquei atrapalhada, porque me sinto uma principiante perante a minha família do Alentejo.

Quer dizer, exceptuando as compotas, as bolachas as granolas não alcanço muito crédito na cozinha.

Talvez sejam inseguranças de quem não sabe fazer um bom cabrito assado ou umas migas alentejanas…

A Dina não consome produtos com lactose e foi a responsável pela solução dos meus pequenos-almoços: leite de arroz.

Também influenciou o meu consumo diário de glúten.

Viver sem consumir glúten pode ser uma necessidade, no caso dos doentes celíacos, ou uma opção.

Alguns médicos aconselham a que cada um (não celíaco) faça a experiência e reduza o consumo de cereais com glúten, como o trigo, por exemplo, durante três semanas.

Naturalmente, fui reduzindo o consumo de trigo (com 70% glúten), o que se relacionou, sobretudo, com mudanças de hábitos alimentares: as granolas são as principais responsáveis.

Contêm aveia e cevada, cereais com glúten, embora de forma bem reduzida.

Pessoalmente, sinto-me melhor com a mudança.

Levei a minha preocupação na redução do glúten para as bolachas.

Bolachas sem glúten

250g de farinha de milho

50g de açúcar mascavado

4 colheres de sopa de mel

100g de amêndoa bem picada

50g de coco ralado

100g de tâmaras picadas

2 ovos

6 colheres de sopa de azeite

2 colheres de sopa de vinagre de sidra

Bater o açúcar com os ovos;

Adicionar o mel, as pastas de amêndoa e tâmaras, o coco, o vinagre, o azeite e a farinha.

Envolver e adicionar mais farinha até conseguir formar uma bola.

Tender a massa fininha.

Não é das massas mais fáceis de “esticar” porque, como tem pouca gordura, não é elástica.

Levar ao forno a 180ºC durante 15 minutos.

Disponíveis na loja para quem quiser testar-se e testá-las!

 

 


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O Taco, o Paco e Eu

Um dos livros da biblioteca que proporcionou mais momentos divertidos cá em casa.

O Taco, o Paco e Eu capa

Para ser sincera, achei-o, numa primeira impressão, um pouco bizarro, mas é essa diferente percepção que distingue o mundo das crianças do mundo convencional/aborrecido dos adultos.

Para mim, não há nada melhor do que ouvir as risadas da Beatriz e, se forem provocadas por livros, ainda melhor; ou seja, acabei por deixar-me levar e encantar-me por este universo de fantasia total, discurso onomatopaico e ilustrações expressivas.

O Taco, o Paco e Eu pag 1

O Taco tem um bigode espetado para cima (e que pode atingir os 5 metros), “anda descalço, rouba maçãs na mercearia e tem umas orelhas muito grandes das vezes que o pai e a mãe lhas puxaram”… e é muuuito divertido.

O Taco, o Paco e Eu pag 3

O irmão, o Paco, é um senhor, certinho e pontual, sempre preocupado com a metereologia e com as horas.

É mesmo extremamente pontual.

O Taco, o Paco e Eu pag 4

O Taco voa mas o Paco, como todas as pessoas certinhas e pontuais, não consegue tal proeza.

Olha para o irmão a voar e bate com a cabeça no poste da electricidade.

O Taco, o Paco e Eu pag 5

A minha parcialidade em relação às personagens é evidente e a do narrador também.

Um narrador que vê cães a perseguem avionetas que andam na estrada,

macacos em paragens de autocarros,

girafas que comem as floreiras dos prédios mais altos,…

O Taco, o Paco e Eu pag 6

e que acaba por voar com o Taco.

O Taco, o Paco e Eu pag 7

Escrito pelo dramaturgo José Maria Vieira Mendes e ilustrado por Marina Palácio: uma dupla com quem é bom “deixarmo-nos ir”, para utilizar a expressão do narrador momentos antes de levantar voo nas asas de um pelicano.

Edições Afrontamento.


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Salmão em cartucho

A Dina é Mãe do meu querido … sobrinho-neto (!!!) e pediu-me para partilhar algumas receitas.

Fiquei atrapalhada, porque me sinto uma principiante perante a minha família do Alentejo.

Quer dizer, exceptuando as compotas, as bolachas as granolas não alcanço muito crédito na cozinha.

Talvez sejam inseguranças de quem não sabe fazer um bom cabrito assado ou umas migas alentejanas…

Junto à costa, é de bom-tom desdenhar de salmão.

Vamos mesmo ao ponto de ridicularizar quem aprecia este peixe de aquicultura e trocamos olhares cúmplices:

-Não percebem nada de peixe!

Em Estremoz, os peixes de aquicultura são os únicos que chegam brilhantes e que passam no teste de quem nasceu e cresceu na costa.

E, ironia do destino, o salmão visita muito os nossos pratos.

Salmão em papelotes

Bem… disfarçado.

Ingredientes por cartucho:

-1 lombo ou filete de salmão;

-rodelas de courgette, alho-francês, tomate, oregãos, coentros, sal e pimenta e um fio de azeite.

Acompanhei com arroz integral e feijão-verde cozido.

Última confissão:

Dificilmente confeccionaria este prato na Figueira, mas aqui sabe-me mesmo bem!


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O bâton

A primeira representação do bâton surge num papiro egípcio.

Cleopatra também o usava.

Até ao início do século XX, o batôn era usado apenas por prostitutas.

Li aqui que, no século XVIII, na Inglaterra, um homem podia pedir a anulação do casamento, se tivesse conhecimento de que a sua esposa usara batôn antes das núpcias!

Rita Hayworth

Rita Hayworth

As sufragistas norte-americanas lutaram pelos seus direitos e usaram batôn vermelho, como símbolo da sua rebeldia e da sua atitude desafiante.

Ava Gardner

Ava Gardner

Aliás, o batôn chegou a ter essa força durante períodos de guerra, no século XX:

uma mulher maquilhada transmitia a imagem de que estava disposta a lutar contra o inimigo apesar das dificuldades.

Elisabeth Taylor

Consta que Hitler não tolerava mulheres de batôn ou com qualquer maquilhagem.

Nos anos 50 e 60, várias estrelas ousaram com batôn vermelho: Marilyn, Ava Gardner, Rita Hayworth ou Elisabeth Taylor.

Elisabeth Taylor 1960

Elisabeth Taylor 1960

Durante o movimento feminista dos anos 70, o batôn foi associado à imagem de mulher-objecto e foi banido.

marilyn-monroe

Felizmente, algumas feministas impuseram-se, apesar do batôn e do verniz vermelho.

Marilyn Monroe

Por incrível que pareça, a verdade é que no final do século XX e o batôn vermelho ainda era reservado a modelos e actrizes.

 

Para mim, esteve reservado à passadeira vermelha até ao mês passado.

Agora tive de alargar o stock de batôns;

é que nem todos os dias são dias de batôn vermelho.

Ma já não prescindo de um toque de rebeldia nestes dias tão cinzentos!

 

 

 

 

 

 


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A Viagem de Sophia

“Viagem”, enquanto metáfora do nosso percurso de vida, está presente no nosso quotidiano e na literatura.

Em escritores como José Saramago ou Sophia de Mello Breyner.

O conto “A Viagem”, de Sophia, atravessa a minha vida desde a adolescência.

Marcou-me quando tinha 15 anos e cada vez faz mais sentido.

Um casal viaja, incessantemente, à procura de um local ideal de que tem um conhecimento vago.

É esse local que os orienta, mas também é a ânsia desse lugar que os impede de desfrutar as paisagens por onde vão passando.

Soa familiar?

Os erros, as insatisfações, as desilusões, a impossibilidade de viver o dia que já passou,… e a inevitabilidade do fim estão tão presentes na “viagem” do casal protagonista que nós sofremos por eles,

sofremos com eles e sofremos sozinhos, por nós, depois de fecharmos o livro.

“- Logo que chegarmos – disse ela -, vamos tomar banho no rio.

– Tomamos banho no rio e depois deitamo-nos a descansar na relva – disse o homem, sempre com os olhos fitos na estrada.

E ela imaginou com sede a água clara e fria em roda dos seus ombros, e imaginou a relva onde se deitariam os dois, lado a lado, à sombra das folhagens e dos frutos. Ali parariam. Ali haveria tempo para poisar os olhos nas coisas. Ali haveria tempo para tocar as coisas. Ali poderiam respirar devagar o perfume das roseiras. Ali tudo seria demora e presença. Ali haveria silêncio para escutar o murmúrio claro do rio. Silêncio para dizer as graves e puras palavras pesadas de paz e de alegria. Ali nada faltaria: o desejo seria estar ali.

Através dos vidros, campos, pinhais, montes e rios fugiam para trás.

– Devemos estar a chegar à encruzilhada – disse o homem.

E seguiram.

Rios, campos, pinhais e montes. E meia hora passou.

– Já devíamos ter chegado à encruzilhada – disse o homem.

– Com certeza nos enganámos no caminho – disse a mulher.

– Não nos podemos ter enganado – disse o homem -, não havia outro caminho.

E seguiram.

– A encruzilhada já devia ter aparecido – disse o homem.

– O que é que vamos fazer? – perguntou a mulher.

– Seguir em frente.

– Mas estamos a perder-nos.

– Não vejo outro caminho – disse o homem.

E seguiram. […]

– Estamos a perder-nos cada vez mais – disse a mulher.

– Mas onde há outro caminho? – perguntou o homem.”

Excerto do conto, inserido no livro Contos Exemplares.

Sophia de Mello Breyner Andresen[1]

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Sophia de Mello Breyner

Imagens de Sophia espalhadas pela net.


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Escolhas

A Beatriz não conhece a Doutora Brinquedos, nem a Princesa Sofia, nem vibra com os ganchos e diverso merchandising da Violeta.

Durante quase 3 anos nem tínhamos televisão em casa e agora temos, mas ignoramo-la.

É uma opção que ocorreu naturalmente mas que, sem fundamentalismos, para mim, é muito libertadora.

 

Na verdade, nos raros momentos em que ouço qualquer “coisa” dos noticiários fico, invariavelmente, irritada com o facto das notícias serem transmitidas de forma sensacionalista, tendenciosa, simplista ou… tudo isto ao mesmo tempo.

Geralmente, começo a vociferar contra a televisão, o que também não transmite a melhor das imagens da minha pessoa.

També me acontece chorar

 

Não sei até quando vai ser pacífica esta nossa escolha de eliminação, sobretudo para a Beatriz.

Para já fica desapontada porque os seus colegas na escola não mostram interesse pela KIKI;

porque não fala Português!

Tentei animá-la e explicar-lhe que nem todas as crianças percebiam tão bem Japonês como ela!

 


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Discurso do Urso

O urso é um animal muito estimado cá em casa: é até o alter-ego de um de nós.

Discurso do Urso Capa

Este urso é ainda mais querido porque vive nos tubos de água quente, do aquecimento, do ar fresco,…  trata da sua limpeza e manutenção.

Dentro da nossa casa.

Discurso do Urso página 1

Nada estranho…

A Beatriz explicou-me que o bicho não se queima por causa do pêlo.

Discurso do Urso página 2

Discurso do Urso página 3

Sim, há ursos dentro das nossas tubagens e valem-nos estes esfregões com vida para que as canalizações não entupam.

Explicado o aspecto mais surreal do livro, seguimos o dia-a-dia deste urso.

Quando o exaustor da cozinheira Guilhermina não funciona bem, é só porque o nosso urso decide animar o dia e rugir na zona do forno do segundo andar.

Discurso do Urso página 4

Discurso do Urso página 7

No entanto, como seria esperado de Julio Cortázar, este urso é poético e sensível

e sabe apreciar os momentos mais simples da vida,

como “escorregar como o vento” ou banhar-se num depósito de água “picotado de estrelas”.

Discurso do Urso página 6

Discurso do Urso página 5

Observa o dia a dia dos humanos e confrange-se com a nossa solidão.

Discurso do Urso página 8

Chega a sentir pena destes seres “desajeitados e grandes” que “sonham em voz alta”.

A propósito deste livro encontrei esta frase da ensaísta brasileira Lígia Cademartori:

“A literatura infantil digna do nome estimula a criança a viver uma aventura com a linguagem e seus efeitos”.

E com este livro sentimos em pleno a aventura de entrar numa outra dimensão em que, felizmente, não há impossíveis.

Com a incrível ilustração de Emilio Urberuaga!

Editora: Kalandraka