– Mas gostas assim tanto de estar em casa?
– Gosto. Gosto de “estar”, de espalhar flores, de perfumar, de ver a casa espelhar quem eu sou.
Começo a achar que sou uma criadora de lares; nas 17 casas que já tive, criei um lar.
Acho que nenhuma foi só um local de passagem, frio e sem alma, ainda que fosse habitada apenas por um ano.
Acho que chinelei em todas e que tive pena de abandonar qualquer uma deles.
Claro que houve algumas nas quais o investimento (monetário e afectivo) foi maior e que deixá-las foi mesmo deixar uma parte de mim. Sobretudo porque aquelas paredes testemunharam momentos importantes da minha vida…
E agora, enquanto construo um lar no Alentejo, dou por mim a pensar que daqui a uns anos talvez queira mudar de meridiano e construir um outro lar. Dou por mim com vontade de construir dois lares: um em Coimbra e outro no Alentejo.
Já não me chega um lar… tenho vontade de construir dois em simultâneo.
A casa é o meu projeto para sempre inacabado…
Adoro vizinhos, viver em bairro e ter quintal.
Se tenho isso em Estremoz? Tenho.
Mas falta-me o mar e sinto as raízes em forma de peixe inquietas.
Ilustrações: Madalena Matoso.