“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Pele

A gravidez altera profundamente a vida de uma mulher.

Torna evidente a maravilha de existir, redimensiona a mulher, assim como a tudo o que a rodeia.

Traz também pequenas mudanças apaziguadoras: a minha relação com o meu corpo pacificou-se;

o meu corpo, com imperfeições e defeitos, cumpriu a sua mais nobre missão: a criação de um ser humano.

Claro que esse corpo, que foi atingido pelo divino, nunca mais ficou igual.

Ganhei uma baguete na zona do baixo ventre e uma facilidade incrível para acumular gordura nas imediações.

É a natureza de sobreaviso, porque não quer ser apanhada novamente sem reservas!

O cabelo perdeu volume e os caracóis.

A pele, que era mista, ficou seca, manchada, e muito sensível.

Depois de anos a tentar perceber o que a apaziguava, descobri.

Deixei o tónico de há anos; fidelizei-me à água micelar e percebi que a pele do meu rosto só se sacia com óleo de rosa mosqueta: muito óleo de rosa mosqueta, de preferência de manhã e à noite, depois do creme hidratante.

Claro que quando a minha amiga Ana me sugeriu esta solução, eu duvidei.

Porquê?

Porque o óleo de rosa mosqueta é barato, é totalmente natural e não tem uma embalagem design.

Bem… a gravidez não altera tudo: continuo a manienta de sempre.

Mais humilde…

Talvez.

Ilustrações de Choi Mi Kyung ou Ensee.

 

 

 

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O Médico do Mar

A Beatriz anda muito curiosa acerca da vida animal, sobretudo a marinha.

Eu também tenho aprendido muito: vocês sabiam que os polvos têm 3 corações e as formigas 2 estômagos?

Eu não!

Para além do saber enciclopédico, encontrámos este livro sobre um veterinário intrépido que todos os dias salva os animais marinhos.

Dos mais inofensivos.

Aos mais temerários.

Até que um dia é ele que precisa de ser salvo.

De forma muito descontraída e divertida, este livro ensina acerca da importância dos comportamentos em cadeia, no mar e na terra: o bem atrai e provoca o bem!

Escrito e ilustrado por Leo Timmers e brevemente adaptado para televisão.


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Gelado de mirtilo e iogurte

A sobremesa preferida da Beatriz são os gelados.

Eu tento contornar a questão do açúcar em excesso e das gorduras saturadas que a maior parte dos gelados industriais tem fazendo os gelados em casa.

Estes são simples de fazer e foram feitos (quase) integralmente pela Beatriz.

Para 4-6 gelados:

100g de mirtilos

1 colher de sopa de açúcar

1 colher de sopa de sumo de limão

1 chávena de iogurte grego açucarado (ou acrescentar 2 colheres de mel, se se optar por iogurtes sem açúcar)

1- Misturar os mirtilos, o açúcar e o sumo de limão numa caçarola.

2-Deixar cozer em lume brando durante 5 minutos.

3- Deixar a mistura de mirtilos arrefecer e, de seguida, reduzi-la a puré numa liquidificadora.

4- Misturar os mirtilos e o iogurte mas de forma pouco pouco homogénea (ou dispô-los em camadas nas formas de gelado), para que os gelados fiquem manchados (tipo tie-dye!).

5- Congelar durante 4 horas.

Nós fizemos duas versões: uma com mirtilos e outra com morangos.

Não dispusemos a mistura em camadas porque a Beatriz não gosta de encontrar aglomerados de fruta nos gelados, mas se fizerem como na receita original o efeito é visualmente mais invulgar.

Esta receita foi adaptada do livro de Linda Lomelino: Gelados Caseiros.

Conhecem o blog dela? É qualquer coisa!

 


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Enrugar

A propósito de envelhecer, este é um dos parágrafos mais ternos da literatura portuguesa.

Sobre ser velho e belo.

Sobre o Amor.

“Desce Baltasar ao vale, vai para casa, é certo que o trabalho ainda não despegou na obra,

mas, vindo ele tão esforçadamente de longe, desde Santo António do Tojal em um só dia,

não esqueçamos, tem direito a recolher mais cedo, depois de descangados e pensados os bois.

O tempo, às vezes, parece não passar, é como uma andorinha que faz o ninho no beiral, sai e entra,

vai e vem, mas sempre à nossa vista, julgaríamos, nós e ela, que iríamos ficar assim a eternidade,

ou metade dela, o que já não seria mau. Mas, de repente, estava e já não está, mesmo agora a vi,

onde é que se meteu, e se temos à mão um espelho, Jesus, como o tempo passou, como eu me tornei

velho, ainda ontem era a flor do bairro, e hoje nem bairro nem flor. Baltasar não tem espelhos,

a não ser estes nossos olhos que o estão vendo a descer o caminho lamacento para a vila,

e eles são que lhe dizem, Tens a barba cheia de brancas, Baltasar, tens a testa carregada de rugas,

Baltasar, tens encorreado o pescoço, Baltasar, já te descaem os ombros, Baltasar,

nem pareces o mesmo homem, Bal­tasar, mas isto é certamente defeito dos olhos que usamos,

porque aí vem justamente uma mulher, e onde nós víamos um homem velho, vê ela um homem novo,

o soldado a quem perguntou um dia, Que nome é o seu, ou nem sequer a esse vê,

apenas a este homem que desce, sujo, canoso e maneta, Sete-Sóis de alcunha, se a merece tanta canseira,

mas é um constante sol para esta mulher, não por sempre brilhar, mas por existir tanto,

escondido de nuvens, tapado de eclipses, mas vivo, Santo Deus, e abre-lhe os braços, quem,

abre-os ele a ela, abre-os ela a ele, ambos, são o escân­dalo da vila de Mafra, agarrarem-se assim um

ao outro na praça pública, e com idade de sobra, talvez seja porque nunca tiveram filhos,

talvez porque se vejam mais novos do que são, pobres cegos, ou porventura serão estes os únicos seres

humanos que como são se vêem, é esse o modo mais difícil de ver, agora que eles estão juntos até os

nossos olhos foram capazes de perceber que se tornaram belos.”

Memorial do Convento, José Saramago

Saramago e Pilar

♥ Vale a pena ver a peça de teatro da companhia Éter!

 

 


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Velha

-Está velha!

Como é que um adjectivo que descreve um estado pode ter esta carga pejorativa?

 

“Velha”  surge como pouco cativante, enrugada e pouco (ou nada!) sedutora.

A culpa é da “sociedade em que vivemos”… que é a resposta mais fácil, mas não a única.

De facto, vivemos rodeados de imagens de perfeição onde foram apagadas rugas, gorduras, manchas e sinais… aliás, para sermos sinceros, foram apagadas as mulheres (e homens) com mais de 50 anos.

Eliminados das séries, filmes, revistas e até da publicidade, a não ser para vender cálcio ou aparelhos auditivos.

Esta estratégia de eliminação dos mais velhos é ainda mais cruel para as mulheres:

querem convencer-nos de que a nossa feminilidade diminui à medida que o corpo perde as formas da juventude.

Como se a idade nos assexualizasse.

Ou como se a sensualidade só estivesse presente em corpos angulosos, estrategicamente intumescidos e esticados.

Se a irreverência e insubmissão acompanharem a idade ainda nos arriscamos ao cognome de “velha gaiteira”… que é, basicamente, o que eu quero ser quando for grande!

Andava nestas reflexões quando li o texto de Ana Alexandra Carvalheira.

“[…] a sexualidade [é encarada pela sociedade] como um privilégio exclusivo da juventude, ou seja,

a sexualidade é para pessoas jovens, atraentes e saudáveis. Somos bombardeados pela comunicação

social com imagens sexuais que sempre representam pessoas jovens, energéticas, atraentes e magras

ou atléticas. E estas representações já não são a realidade a partir de uma idade muito anterior aos

60 anos! Muito antes de se chegar à idade sénior, homens e mulheres começam a sentir que já não são

fisicamente atraentes, o que perturba o interesse e a receptividade para o sexo. Sobretudo as mulheres,

muito mais ameaçadas por tais exigências para manter determinados padrões de beleza física. E é agora

o momento de falar no duplo padrão do envelhecimento. Isto significa que, na mulher, impõe-se a

exigência dum corpo atractivo, e no homem, são valorizados o estatuto e os recursos sociais, intelectuais

e económicos, sobretudo. E assim, há uma assimetria erótica muito injusta para as mulheres e

favorecedora dos homens. As mulheres, tendo mais plasticidade erótica, são menos afectadas no seu

erotismo pelo abdómen proeminente do parceiro, pela cor branca do cabelo ou mesmo pela falta deste.

Pelo contrário, os homens não erotizam o cabelo branco das mulheres nem a gordura abdominal ou a

falta de tonicidade da pele. Uma prova da persistência deste duplo padrão, é a admiração gerada pela

idade da esposa do Presidente Francês, Emmanuel Macron, recentemente eleito. Como pode um homem

tão jovem e atraente estar casado com uma mulher 24 anos mais velha do que ele. Pois é, se fosse ao

contrário, ela muito mais jovem do que ele, ninguém diria nada. É completamente ainda verdade a

afirmação de Susan Sontag em 1975:

“Um homem, inclusive um homem feio, mantém-se sexualmente elegível até ter uma idade avançada.

É um parceiro aceitável para uma mulher jovem e atraente. As mulheres, tornam-se inelegíveis numa

idade muito mais jovem. Assim, para a maior parte das mulheres, o envelhecimento constitui um

humilhante processo de desqualificação sexual.”

Triste esta ser ainda uma ideia generalizada em 2017!

 


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A minha professora é um monstro

O nosso ano lectivo inicia-se com mais adrenalina do que o habitual: a nossa bebé vai para a escola primária!

Que nervos!

Uma das leituras de Verão abordou a incontornável temática:

-Será que eu vou gostar da professora?

-Será que a professora vai gostar de mim?

O Fred não gostava da professora… e a D. Lurdes também não simpatizava especialmente com o Fred.

Até que, num tranquilo Sábado de manhã, um encontro nada desejado aconteceu no parque da cidade.

Um silêncio incómodo prolongou-se… interrompido por um ventinho benfazejo.

Foi a oportunidade de que precisavam para perceberem que, se olhassem com mais atenção um para o outro, iriam encontrar pontos comuns, daqueles que retiram a  “monstruosidade” às pessoas com quem não simpatizamos (bem, a algumas…).

No fundo, uma lição de sã convivência para crianças e adultos.

De Peter Brown, filho, neto e sobrinho de professores.

Da editora mais perigosa que conheço Orfeu Negro  

(Se visitarem o site, percebem o que digo: tudo irresistível!)