“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Sex appeal

Sex appeal:

Poder de sedução ou encanto sensual que alguém apresenta ou transmite.”

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Tenho amigas extremamente atraentes, mas que se consideram com pouco sex appeal.

Dizem que não vêem, no sexo oposto, aquele virar de cabeça involuntário, que a maior parte de nós não procura mas que, uma vez por outra, sabe bem encontrar num homem com pinta (claro! dos outros chega-nos a presença nos pesadelos!) .

Ora eu tenho a certeza de que as minhas amigas têm “poder de sedução e encanto sensual”: são mulheres interessantes, cativantes, seguras, com sentido de humor, bonitas e cheias de estilo.

O que andará a passar-se?

Ou os homens estão míopes e misturam sensualidade com vulgaridade e só reagem a imagens estereotipadas;

ou elas estão míopes e não vêem que a maior parte dos homens está mais subtil nos seus olhares involuntários;

ou a noção de sexy é tão variada como a quantidade de homens e mulheres que existem no mundo.

Quanto a mim, considero estas três imagens com igual sex appeal , apesar da última imagem poder não ser tão consensual;

o sex appeal é, sem dúvida, muito mais mutável e complexo do que aquilo que as capas de revistas nos querem fazer crer.

A verdade é que só um olhar pode ter uma carga erótica de milhares de volts!

 

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Secar

Na literatura portuguesa, o amor é cantado com drama e angústia…

Será uma particularidade nossa, amantes inveterados?

Ou a literatura está repleta de amores trágicos?

“O amor é um tema extraordinariamente obsessivo na literatura portuguesa, desde os primeiros cancioneiros, prosseguindo quase sem descontinuidade até aos nossos dias, passando por Bernardim Ribeiro, Camões, Tomás António Gonzaga, Bocage, Garrett, Camilo, cujo Amor de Perdição, segundo Unamuno, é a novela de paixão amorosa mais intensa e mais profunda que se escreveu na Península.

[O amor] É um dos principais temas da poesia popular.

Poucos países haverá que tenham tanta abundância de poesias amorosas como Portugal.

Trata-se em geral do amor-paixão que se compraz na ausência, na impossibilidade de realização, na autodestruição, amor a fogo brando, sem sentimento trágico, exceptuando Camilo e o Garrett das Folhas Caídas.

Chega a ser um estado de insatisfação sem objeto.

Assim aparece no fado.”

António José Saraiva, A Cultura em Portugal: Teoria e História

 

O poema !”Adeus” de Eugénio de Andrade retrata a constatação do fim do amor.

Um amor que naturalmente termina, que se apaga do coração.

Com um sujeito poético conformado e não desesperado.

E é por causa desta lucidez que, por mais que o leia, não páro de arrepiar-me.

 

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade, in Poesia e Prosa

 

Há poucos poemas que cantem o desamor do próprio coração…

É mais frequente (e fácil!) desempenhar o papel de vítima do drama amoroso.

 

Ilustrações de Cynthia Tedy.


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Anjos da Casa

“Há sempre um deus fantástico nas Casas
Em que eu vivo, e em volta dos meus passos
Eu sinto os grandes anjos cujas asas
Contêm todo o vento dos espaços.”

in Dia do Mar, 1947
Já há muitos anos que me conheço como “fazedora de lares”.
Com Sophia, descobri o mistério das casas em que vivo.
Neste momento, não sei se os anjos conseguem abrir as asas ou respirar com tanto pó.
A nossa casa está com aparelhos dos dentes por todo o lado.
Aparelho nos dentes é um eufemismo para descrever a desolação em que vivemos.
Estas duas, com má qualidade, mas já com alguma lógica, dão-me alguma esperança.
Ufa!
Se bem me conheço, esta agitação vai durar meses…

Uma música cheia de casa e ânimo, para serenar e resistir (resistiremos?), porque na maior parte dos dias só apetece fugir.
Um site-casa para quem gosta de Sophia ler tuuudo: organizado por Maria Andersen de Sousa Tavares.


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Lá Fora Cá Dentro

Uma dupla cá de casa da responsabilidade dos meus ilustradores preferidos, Bernardo Carvalho e Madalena Matoso, e da editora portuguesa do coração, Planeta Tangerina.

Num mundo feroz e veloz, educar para a contemplação e para o deslumbramento não é fácil.

É preciso, antes, educar para o silêncio e para o recolhimento.

É preciso respirar e seguir o voo da borboleta… e encantarmo-nos.

É um trabalho diário e contracorrente.

Durante o Verão já tínhamos treinado:

Por que razão é que o mar é azul? E salgado? E as marés de onde virão?

E que animais vivem na areia, nas rochas e no azul profundo?

No entanto, tão importante como olhar para fora é olhar para dentro:

Reflectir sobre as emoções, sobretudo agora, aos seis anos, que elas estão a tornar-se mais complexas e a precisar de ser entendidas e discutidas.

A infância (e não só!)  é o momento para analisar o que se sente pelos outros e para responsabilizar a criança pelas suas decisões; mesmo pelas incorretas. Que difícil que é, também para quem assiste, vê-la nas primeiras dores do crescimento!

Como adulta, renova-me esta partilha do Maravilhamento: pelo Mundo e pelo Homem, o único ser com um cérebro (e coração!) capaz de raciocínio, de nutrir sentimentos tão profundos e de criar e apreciar Arte!


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Uniforme

O tempo arrefece e começa a surgir o uniforme de Inverno.

 

Uniforme que eu quero copiar; já que o cenário, infelizmente, não constará do meu Inverno…

 

Li, num site muito erudito, que a mulher que usa preto transmite serenidade (ou seria seriedade?) e poder.

Quero acreditar que sim, mas ninguém me tira da cabeça que a escolha da cor se relaciona também com um lado bem português e melancólico de viver os dias, misturado com uma procura de afinação estética, eventualmente…

 

 

Como não ando melancolicamente portuguesa todos os dias, estou a tentar sair do preto.

Ainda que vá só até ao cinzento…

Mas a tentar ir até ao bege.

E ao azul!

Ou até ao burgundy ( que palavra bonita para “cor de vinho”)!

Pelo menos nos pés!

Que ousadia!

Imagens do Pinterest e do blog Le fashion.


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Libertar

Palavras que nos libertam:

PARA ESCREVER O POEMA

O poeta quer escrever sobre um pássaro:

e o pássaro foge-lhe do verso.

 

O poeta quer escrever sobre a maçã:

e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.

 

O poeta quer escrever sobre uma flor:

e a flor murcha no jarro da estrofe.

 

Então, o poeta faz uma gaiola de palavras

para o pássaro não fugir.

 

Então, o poeta chama pela serpente

para que ela convença Eva a morder a maçã.

 

Então, o poeta põe água na estrofe

para que a flor não murche.

 

Mas um pássaro não canta

quando o fecham na gaiola.

 

A serpente não sai da terra

porque Eva tem medo de serpentes.

 

E a água que devia manter viva a flor

escorre por entre os versos.

 

E quando o poeta pousou a caneta,

o pássaro começou a voar,

Eva correu por entre as macieiras

e todas as flores nasceram da terra.

 

O poeta voltou a pegar na caneta,

escreveu o que tinha visto,

e o poema ficou feito.

Nuno Júdice, A Matéria do Poema

Ilustração Cynthia Tedy.