“Como todas as grandes criações do Homem, o amor é duplo:
é a suprema ventura e a desgraça suprema. […]
Em todos os amores, sem excepção, aparecem esses contrastes, embora quase sempre menos violentos. Os amantes passam sem cessar da exaltação ao desânimo, da tristeza à alegria, da cólera à ternura, do desespero à sensualidade.
O grande perigo que espreita os amantes, a armadilha mortal em que muitos caem, é o egoísmo. O castigo não se faz esperar: os amantes não vêem nada nem ninguém que não seja eles mesmos até que se petrificam… ou se detestam. O egoísmo é um poço. Para sair para o ar livre, há que olhar para além de nós mesmos: lá está o mundo e espera-nos.
O amor não nos preserva dos riscos e desgraças da existência. Nenhum amor, sem excluir os mais tranquilos e felizes, escapa aos desastres e desventuras do tempo. O amor, qualquer amor, é feito de tempo e nenhum amante pode evitar a grande calamidade: a pessoa amada está sujeita às afrontas da idade, da doença e da morte.
O amor também é uma resposta: por ser tempo e ser feito de tempo, o amor é, simultaneamente, consciência da morte e tentativa de fazer do instante uma eternidade.
O amor é intensidade e por isto é uma dilatação do tempo: estica os minutos e alonga-os como séculos. O tempo, que é medida isócrona, torna-se descontínuo e incomensurável. Mas após cada um desses instantes sem medida, voltamos ao tempo e ao seu horário: não podemos escapar da sucessão.”
Octavio Paz, A Chama Dupla: Amor e Erotismo
Imagens: IGNANT, da fotógrafa Maud Chalard
1 de Junho de 2018 às 12:41
Engraçado, mas eu sempre dei mais importância a paixão que ao amor. Porque a paixão arde, queima incendeia e alimenta o amor, que fica quieto lá dentro, no fundo, feito uma lareira que precisa da acha… a paixão. rs
Eu me apaixono invariavelmente todos os dias por um par de olhos que sorri ao pousar nos meus. Por mãos que alcançam as minhas em um toque aquecido. Por passos que se encaixam aos meus. Por palavras que chegam até mim. Por momentos que se renovam em pausas que inventamos apenas para ouvir-sentir-perceber.
O amor é como cama fria que a gente deita em nossas de inverno, precisa da paixão para aquecer. rs
bacio
2 de Junho de 2018 às 16:15
Que definição tão autêntica de paixão e amor!
A paixão é que aquece o amor: vou registar 🙂
Bacio!