No Brasil, o “feiinho” perde o “i”; ficará mais bonitinho?
AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero um amor feinho.
Michael Puett é professor catedrático de “História Chinesa” na Universidade de Harvard, onde dirige o Departamento de Estudos Religiosos.
Nesta palestra, coloca em causa a nossa forma de viver moderna e esclarecida.
Quantas vezes não ouvimos e dissemos que o importante é sermos fiéis a nós próprios, encontrarmo-nos e amarmos as nossas qualidades e defeitos? Eu não paro de dizer isso.
Puett apresenta outra perspectiva acerca desta questão que me tem dado que pensar.
Já há mais de dois mil anos que vários filósofos chineses dizem que nós não nascemos com a tal identidade que andamos, no mundo ocidental, tão furiosamente à procura.
Aliás, dizem que nós somos, mal nascemos, exteriormente e interiormente, uma enorme confusão, “a mess”, e relacionamo-nos, de imediato, com outros seres em total desordem, os outros humanos.
Reagimos, desde bebés, por padrões, sem a possibilidade de escolha que muitas vezes pensamos que temos.
Como?
Na infância, aprendemos a reagir em espelho: se nos sorriem, sorrimos; se forem rudes connosco, respondemos com agressividade.
Estes são só dois exemplos de padrões básicos que muitas vezes nos condicionam a vida: habitualmente já nem é preciso serem muito rudes connosco, porque o nosso sistema de resposta é tão automático que reagimos, desde logo, com agressividade a um mero esgar antipático. Ou seja, não estamos a reagir àquela situação específica, mas a um acumulado e a deixar o padrão funcionar.
Este nosso comportamento por padrão explica o motivo pelo qual tendemos a repetir o mesmo erro ao longo da vida: ou somos sistematicamente pouco exigentes nas relações amorosas ou deixamos que um chefe nos humilhe; ou reagimos de forma particularmente agressiva quando somos contrariados ou estamos em stress constante…
Geralmente, justificamo-nos dizendo que temos uma personalidade passiva, reactiva, mais dominadora,…
Michael Puett explica, assim, a origem da maior parte dos nossos comportamentos, recorrendo à nossa tendência interna para repetirmos padrões que interiorizámos na infância e adolescência, sobretudo.
Acrescenta que esta tendência para nos aceitarmos é perigosa e não vai deixar-nos ser melhores pessoas e mais felizes.
A resposta passa, então, por quebrar o padrão.
Como?
Os chineses quebram-no através de rituais.
O ritual é extremamente importante nesta cultura ancestral, pois surge como uma oportunidade para interromper a vida diária, com as suas tensões, e introduzir um elemento novo.
Há até um ritual muito curioso que consiste na troca de papéis familiares: o pai assume o papel do filho e o filho o papel do pai.
Repete-se o ritual até se interiorizar a nova dinâmica.
Puett sugere que tentemos fazer o mesmo.
O professor dá um exemplo que aqui em casa (mea culpa!) acontece com frequência.
No final do dia, estamos cansados e sem paciência e é muito fácil rastilhar uma discussão. Ninguém tem muita consciência de que está a reagir já respondendo ao padrão habitual e respondemos (eu respondo, na verdade!) de forma menos simpática porque estou rabugenta e com tarefas por fazer.
Criar um ritual pode ajudar e é simples. Fazer algo inesperado como apagar as luzes e colocar velas na mesa, música ambiente, quebra o padrão e potencia algo novo.
Já experimentei e cada um levou o seu prato para jantar na mesa da rua à luz das estrelas.
No Inverno, não sei se terei a mesma presença de espírito, mas fica o registo positivo.
Na minha vida profissional, observo diariamente que os adolescentes mais problemáticos respondem a padrões. Uns dias melhor, outros nem tanto, tento quebrar o padrão e reagir de forma inesperada. Não ripostar a uma provocação e, posteriormente, num outro momento da aula, colocar-lhe a mão no ombro, transmitir-lhe uma mensagem de calma, uma advertência individual e/ou um reforço positivo costuma fazer milagres.
Claro que só é bem sucedida quando eu consigo quebrar o meu padrão e não reajo com impulsividade a uma agressão.
Quebrar padrões exige muita autoconsciência, autodomínio e autodisciplina: três palavras que preciso de trabalhar e treinar muito.
O livro de Michael Puett tem este sugestivo nome e vai ser o meu guia.
Só cumprimentei o escritor, mas ficou-me a vontade de voar com ele!
Nasceu em 1891, em Buenos Aires.
Não era fisicamente atraente, mas um homem que escreve assim não precisa.
Em total coerência com a transcrição, Girondo casa com a escritora Norah Lange.
“Não me importa nada que as mulheres tenham seios como magnólias ou como figos secos; uma pele de pêssego ou de lixa. Não dou nenhuma importância ao facto de que amanheçam com um hálito afrodisíaco ou com um hálito insecticida. Sou perfeitamente capaz de suportar um nariz que ganharia o primeiro prémio numa exposição de cenouras; mas isso sim – e nisso sou irredutível — não lhes perdoo, sob nenhum pretexto, que não saibam voar. Se não sabem voar perdem o tempo as que pretendam seduzir-me!
Esta foi – e não outra, a razão porque me apaixonei tão loucamente por Maria Luísa.
Que me importavam os seus lábios entalhados e os seus ciúmes sulfurosos? Que me importavam as suas extremidades de palmípede e os seus olhares de prognóstico reservado?
Maria Luísa era uma verdadeira pluma!
Desde o amanhecer voava do quarto até à cozinha, voava da sala de jantar até à dispensa. Voando me preparava o banho, a camisa. Voando fazia as compras, as suas canseiras…
Com que impaciência eu esperava que voltasse, voando de algum passeio pelos arredores! Ali longe, perdido entre as nuvens, um pequeno ponto rosado. “Maria Luísa! Maria Luísa!”… e em poucos segundos, já me abraçava com as suas pernas de pluma, para levar-me voando a qualquer parte.
Durante quilómetros de silêncio planeávamos uma carícia que nos aproximava do paraíso; durante horas inteiras aninhávamo-nos numa nuvem, como os anjos, e de repente, em saca-rolhas, em folha morta, a aterragem forçada de um espasmo.
Que delícia a de ter uma mulher tão leve…, ainda que nos faça ver, de vez em quando as estrelas! Que voluptuosidade a de passarem-se os dias entre as nuvens… a de passar-se as noites de um só voo!
Depois de conhecer uma etérea, pode-nos brindar com alguma classe de atractivos uma mulher terrestre? É verdade que não há diferença substancial entre viver com uma vaca ou com uma mulher que tenha as nádegas a setenta e oito centímetros do solo?
Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher pedestre, e por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível nem tão pouco imaginar que possa fazer-se amor a não ser voando. “
As fotografias são da fotógrafa alemã Katharina Jung, uma mulher alada, sem dúvida.
É a casinha do Avô da Heidi, mas em versão confortável.
Lois é mais pequeno do que a aldeia da Heidi, mas o espírito comunitário faz com que nos sintamos bem recebidos por todos. No segundo dia, tratam-nos pelo nome e convidam-nos para participarmos na dinâmica do lugar.
Sem Internet aberta, sem TV ou computadores, o tempo passa da forma certa. Olhamo-nos e ouvimo-nos como quase já nos tínhamos esquecido.
No deslumbramento do momento, pensei mesmo que poderíamos ter uma leitaria e eu faria chocolates.
Enfim, Setembro chegou e a realidade também.
As unhas já estão pintadas e o baton na bancada, assim como as restantes pinturas de guerra.
Talvez nos valha ainda o ar, o silêncio e a solidão com que enchemos os pulmões!
Bom reinício!
(A primeira, segunda e quarta fotos são da autoria do meu Companheiro de Viagem!)