“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).

Paisagens humanas

3 comentários

“Tenho sempre dificuldade em falar de um país somente pela sua paisagem, monumentos, gastronomia ou clima. Normalmente, a minha preferência recai sobre experiências humanas. Se conheci alguém interessante, se tive boas conversas, se fiz amigos, se trago histórias na mala. E, de facto, em vez de mostrar fotografias ou vídeos, é muito mais revelador partilhar um pensamento novo trazido de um país distante, tirar do bolso uma nova maneira de estar.”

Afonso Cruz refere o que traz da viagem; ou viagens, uma vez que já foi a mais de cinquenta países.

Eu fui ali à Noruega e trouxe experiências, “pensamento novo” e uma “nova maneira de estar”… para além de “histórias na mala”.

1- Se quisesse definir este país numa palavra, escolheria: silêncio.

Silêncio nas cidades, nos transportes públicos, nos quilómetros de neve.

Nesta fase da vida em que estou, foi o que mais estranhei, mas também o que mais apreciei.

Para os noruegueses, falar alto ou gritar, de maneira a incomodar terceiros, é uma forma rude de invadir o seu espaço. Não podia estar mais de acordo, embora seja um cuidado muito contrário à nossa cultura mediterrânica (basta cruzarmos a fronteira para conhecermos a verdadeira dimensão da estridência!).

Como as minhas costelas são todas mediterrânicas, embora me tenha agradado muito o sossego, julgo que, no quotidiano, os noruegueses são excessivamente contidos (em público). Um equilíbrio entre as nossas duas culturas seria, para mim, perfeito.

2- O individualismo existe, mas há um forte espírito comunitário: o cuidado com o outro, com o espaço e bem comuns é incrível, quer seja nos transportes públicos, nos jardins, nas esplanadas ou nos passeios. E, claro, o planeta é, indiscutivelmente, um espaço comum!

3- Na Noruega, é sempre um bom momento para ler um livro. Sempre. Trouxe essa ideia para a minha vida, sobretudo numa altura em que todas as pessoas massajam os telemóveis a cada segundo de espera (ou de ócio) e ler um livro em público se tornou um ato insólito e pretensioso.

Agora, leio ao sol e lembro-me muito de Natália Correia:

“Ó subalimentados do sonho!/ a poesia é para comer.”

4- Os transportes públicos são preferidos aos privados e são quentes, limpos, pontuais (11:59h, por exemplo, faz parte do horário e é escrupulosamente cumprido) e… silenciosos.

De facto, é um conforto termos como única preocupação absorver a paisagem, enquanto alguém conduz por nós.

5- As bibliotecas são centros culturais: são muito frequentadas, locais de encontro e tertúlia informal; há café, chá e almoço, poltronas, recantos, animadoras, bebés a gatinhar e não impera aqui a lei do silêncio.

Fico sempre a pensar nas nossas bibliotecas, injustamente abandonadas pela maior parte dos portugueses, mas com um potencial incrível.

6- Viajar com crianças obriga-nos a entrar num outro ritmo, Talvez no ritmo certo. Há sempre tempo para um lanche (ou dois ou três), para correr num parque, ter novas experiências, conversar com estranhos e reparar em pormenores.

7- Durante a viagem, a Beatriz confirmou que é uma menina todo-o-terreno, sempre pronta para novas experiências.

Ficou encantada com Bergen e está decidida a voltar aos 18 anos para estudar na cidade, tal como ouviu da menina francesa, universitária, que trabalhava no restaurante onde íamos jantar.

Eu juro aqui solenemente que não vou viajar com a minha filha para a Austrália; não vá ela ficar com a ideia de ir estudar para os antípodas. O meu coração tem certos limites…

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Autor: Frasco de Memórias

http://frascodememorias.com

3 thoughts on “Paisagens humanas

  1. O meu coração ficou quente! Grata por partilhares as tuas vivências de uma maneira leve, que traz candura ao coração! ❤🙏

  2. Pingback: Caleidoscópio |

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