Um dos últimos livros de valter hugo mãe chama-se O Filho de Mil Homens.
Ainda não o li; vi apenas uma entrevista do autor, transcrita com este parágrafo do livro:
“Todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.“
O título, tal com a frase, transmitem uma ideia de humanidade fraterna que eu, nos dias bons, partilho.
Nos dias maus, perco a fé na humanidade e caio num abismo de onde é difícil sair.
A mais recente queda aconteceu-me ao ver o filme LION.
valter hugo mãe tem razão quando fala da nossa fraternidade e ao lembrar todos os pais que tiveram de viver harmoniosamente antes de nós para que nascessemos.
Há oito anos, depois da minha filha nascer, para além de ser irmã, passei a sentir-me mãe de todas as crianças, ou pelo menos mãe de mil crianças.
Durante as duas horas do filme LION, fui mãe do Saroo, o pequeno Saroo, perdido na babilónica Calcutá. Fui mãe daquele menino de cinco anos e sofri com o frio, com a sua fome e com o seu abandono. Fui mãe dele e dos meninos de rua que são abandonados, maltratados, espancados e violados. São oitenta mil por ano, na Índia. Chorei muito.
Continuei a chorar sem lágrimas e andei sem ânimo durante dias; tentei gerir esta desumanidade, este lado bestial do ser humano que permite este abandono dos seus filhos.
Em última instância, salvou-me o Amor que felizmente me rodeia…
Apenas 4.362 crianças foram legalmente adotadas em 2014 e 3.677 em 2015, de acordo com a Autoridade Central de Recursos de Adoção.”
Eu preciso de agir e tenho pesquisado associações que ajudam os órfãos indianos. Tenho receio do que possa acontecer aos contributos e a desconfiança cresce quando surgem notícias de que há orfanatos pouco honestos.
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