Nunca tinha caído de tamanha altura em mim antes de ter subido às alturas do teu sorriso. Regressava do teu sorriso como de uma súbita ausência ou como se tivesse lá ficado e outro é que tivesse regressado. Fora do teu sorriso a minha vida parecia a vida de outra pessoa que fora de mim a vivia. E a que eu regressava lentamente como se antes do teu sorriso alguém (eu provavelmente) nunca tivesse existido.
Segundo os últimos dados da DGS, o número de infectados continua a aumentar e, desta vez, o Alentejo não sai ileso. Não sei se é por isso, mas tenho sentido as pessoas muito mais tensas e com o modo conflituoso ativado.
Também pode ser porque voltei a trabalhar fora de casa, saí da minha doce bolha-lar, caminho pela rua e vejo mais seres taciturnos, irritadiços, impacientes e inquiridores.
Li que a pandemia irá prolongar-se no tempo e que os cuidados a que estamos obrigados agudiza os espíritos potencialmente neuróticos.
O vírus assusta-me, mas também tenho medo de ser atingida por esta neurose social.
Para já, noto que, contrariamente ao que eu julgava no início da pandemia, estamos a perder a empatia e o sentido de humor.
Será porque estamos literalmente amordaçados e deixámos de ver o sorriso do outro?
Será que a falta de abraços está a afectar irremediavelmente a nossa saúde mental?
Há muito tempo que não ouço uma gargalhada fora de minha casa. Gritos coléricos vindos da rua, infelizmente, tenho ouvido com alguma frequência.
Se perdermos essa habilidade, perderemos uma grande parte da nossa capacidade de resistir e uma das nossas características mais humanas.
Se Eu Fosse A Ti
Se eu fosse a ti amava-me, telefonava, não perdia tempo, dizia-me que sim. Não hesitava mais, fugia. Dava o que tens, o que tenho, para ter o que dás, o que me darias. Soltava o cabelo, chorava de prazer, cantava descalça, dançava, punha em fevereiro um sol de agosto, morria de prazer, não punha nenhum “mas” a este amor, inventava nomes e verbos novos, estremecia de medo perante a dúvida de que fosse só um sonho, fugia para sempre de ti, de ali, comigo. Se eu fosse a ti amava-me. Dizia-me que sim, vinha a correr para os meus braços, ou pelo menos, sei lá, respondia às minhas mensagens, às minhas tentativas de saber que é feito de ti, telefonava-me, que será de nós, dava-me um sinal de vida, se eu fosse a ti.