“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).

Se eu fosse a ti

4 comentários

Segundo os últimos dados da DGS, o número de infectados continua a aumentar e, desta vez, o Alentejo não sai ileso. Não sei se é por isso, mas tenho sentido as pessoas muito mais tensas e com o modo conflituoso ativado.

Também pode ser porque voltei a trabalhar fora de casa, saí da minha doce bolha-lar, caminho pela rua e vejo mais seres taciturnos, irritadiços, impacientes e inquiridores.

Li que a pandemia irá prolongar-se no tempo e que os cuidados a que estamos obrigados agudiza os espíritos potencialmente neuróticos.

O vírus assusta-me, mas também tenho medo de ser atingida por esta neurose social.

Para já, noto que, contrariamente ao que eu julgava no início da pandemia, estamos a perder a empatia e o sentido de humor.

Será porque estamos literalmente amordaçados e deixámos de ver o sorriso do outro?

Será que a falta de abraços está a afectar irremediavelmente a nossa saúde mental?

Há muito tempo que não ouço uma gargalhada fora de minha casa. Gritos coléricos vindos da rua, infelizmente, tenho ouvido com alguma frequência.

Juan Vicente dá-nos instruções para atravessarmos o deserto do mundo.

E dá-nos uma chave: o humor.

Se perdermos essa habilidade, perderemos uma grande parte da nossa capacidade de resistir e uma das nossas características mais humanas.

Se Eu Fosse A Ti

Se eu fosse a ti amava-me, telefonava,
não perdia tempo, dizia-me que sim.
Não hesitava mais, fugia.
Dava o que tens, o que tenho,
para ter o que dás, o que me darias.
Soltava o cabelo, chorava
de prazer, cantava descalça, dançava,
punha em fevereiro um sol de agosto,
morria de prazer, não punha
nenhum “mas” a este amor, inventava
nomes e verbos novos, estremecia
de medo perante a dúvida de que fosse
só um sonho, fugia
para sempre de ti, de ali, comigo.
Se eu fosse a ti amava-me.
Dizia-me que sim, vinha
a correr para os meus braços,
ou pelo menos, sei lá, respondia
às minhas mensagens, às minhas tentativas
de saber que é feito de ti, telefonava-me,
que será de nós, dava-me
um sinal de vida, se eu fosse a ti.

Juan Vicente PiquerasInstruções para Atravessar o Deserto

Fotografias de mergulhos: IGNANT.

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Autor: Frasco de Memórias

http://frascodememorias.com

4 thoughts on “Se eu fosse a ti

  1. Penso igualmente que se sente agora, mais que nos meses anteriores um evidente cansaço e tensão nas pessoas.
    Creio que estamos todos fartos de andar “desconfiados”, de não sermos nós ao natural e principalmente de estarmos a lidar com algo que não tem uma data prevista para terminar. Sem perspectivas.
    E isso cansa… cansa muito…

  2. Por aqui, cara mia, a minha paciência se esvaiu. Mas, o humor não se perdeu. Cansei de ver as pessoas agirem como se estivessem em um maldito mundo paralelo onde o vírus não existe e podem agir sem preocupação consigo, pior, para com o outro. É bizarro. Mas temos no comando da Nau Brasil, um bufão… não é surpresa o comportamento de parte dos seres brazilianos.
    Eu atravesso a rua e penso em mi e nos que amo. Não sou negacionista, nem terraplanista… tampouco bolsonarista. Eu nunca tive apreço por determinados tipos e desde a infância que tenho horror a palhaços. rs

    bacio e se cuide

    • Partilhamos esse horror a palhaços, Lunna!
      Como é possível que cheguem a presidentes?
      Mesmo sem Bolsonaro, o clima aqui também é muito tenso.
      O distanciamento social traz outros distanciamentos que ninguém previu: o afetivo, o empático e o humanitário são só alguns deles!
      Votos de muita saúde e muito humor, contra todas as expectativas. Também ando por aqui a acreditar que o tal do bicho não gosta de corpos sorridentes. Oxalá!

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