Depois de períodos espinhosos, uma pandemia ou uma guerra, já assistimos, no passado, a uma retoma material e espiritual por parte dos povos:
Os loucos anos vinte do século XX são um exemplo desse fenómeno social.
Em Portugal, especificamente, vivemos uma loucura discreta.
Afinal, logo em 1928, houve um verdadeiro insano que assumiu a pasta das Finanças e, em 1932, o mesmo demente assumiu o país e queimou o que restava da alegria.
No entanto, os anos vinte ainda permitiram a nossa explosão modernista.
A minha admiração pelo Modernismo Português remonta ao ensino secundário e universitário.
Trata-se de uma geração de ruptura e desafio, o que seduz qualquer jovem.
Ainda hoje me fascinam: persigo filmes, exposições, biografias e documentários desta época.
Acho até que me apaixonei, aos dezoito anos, por esta fotografia de Santa Rita-Pintor.
Santa-Rita Pintor foi um dos organizadores da revista Orpheu e era o dinamizador da revista Portugal Futurista. Só existiu o número 1 desta última revista, uma vez que todos os exemplares foram apreendidos à porta da tipografia, devido ao seu teor “subversivo e obsceno”.
Nada pode ser mais inebriante do que este tipo de pormenores.
Quanto ao pintor Amadeo de Souza Cardoso, saltou de Manhufe para Paris, com a paleta debaixo do braço.
Aguardo, ansiosamente, pela estreia do filme sobre Amadeo de Souza Cardoso de Vicente Alves do Ó. Acredito que seja este ano.
A estreia do filme tem sido adiada por causa da pandemia.
Amadeo de Souza Cardoso morreu de gripe espanhola. Infelizes coincidências.
A obra de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Sá Carneiro ou de Amadeo jorrou em rompantes criativos, aparentemente sem esforço e com uma originalidade genial e chocante para a época.
Sá Carneiro e Fernando Pessoa eram, socialmente, mais contidos.
Almada era extravagante e Amadeo era… pintor.
Muito me fascina a sua figura.
Decidido e sobranceiro.
Estes génios fitam-nos e interpelam-nos: E, tu, o que fazes?
Não queriam discípulos; queriam soldados para a sua revolução cultural.

São inspiradores!
Ainda hoje procuram soldados para esta batalha!
Eu alistei-me na sua milícia pacífica.
4 de Abril de 2021 às 12:28
Eu estava em Coimbra a estudar psicologia quando ouvi falar da Revista Orpheu… era leitora de Fernando na pessoa de Campos. Engraçado que eu tenho uma relação intensa com o modernismo e sou grata a ele por esse contemporâneo menos dramático. As linhas modernas na poesia e na arte nos deu (falo de mim, é claro) uma liberdade de pensar fora do quadrado da dramaticidade romântica que me aborrecia imenso. rs
4 de Abril de 2021 às 20:18
Foi o que aconteceu comigo, Lunna. Os modernistas tiveram essa vantagem muito pessoal na minha vida: ensinaram-me que eu tinha a liberdade de pensar fora do quadrado, de qualquer quadrado, aliás.
Um grande abraço, Lunna!