Uma carência de serotonina, uma crise de meia idade ou a ressaca de tantos meses de tensão global pandémica levaram-me a um estado meditativo solitário. Foi profundo e com o tempo certo, vejo agora, mas estas inquietações da alma parecem-me sempre prolongadas.
Sinto uma revolta natural contra este tipo de desassossego que perdura.
Talvez seja porque a melancolia crónica me derruba e me obriga à introespecção
improdutiva.Insanamente, continuo a medir os meus dias pelos actos e tarefas que equacionei e não pelos progressos mentais ou emocionais que resolvi. Na verdade, estes últimos são muito mais determinantes para o meu bem-estar do que os primeiros, mas desenrolam-se de uma forma lenta, discreta e, frequentemente, imperceptível.
Felizmente, o corpo e a mente têm sempre a capacidade de me obrigar à pausa e assim aconteceu.
Respeitar-me, retomar a psicoterapia, dar e receber amor em todas as suas formas e usufruir da arte humana e natural sempre foram os responsáveis pela minha salvação. Desta vez, também me resgataram.
Regressei à leitura prazerosa com Ferrante e Jávier Marias, voltei a emocionar-me com as palavras da Cláudia Lucas Chéu e com este vídeo de Roger Wolfe (entrevistado pela Raquel Marinho), entusiasmei-me com o teatro, prestei culto a programas como o da Gabriela Moita, oportunamente intitulado “Impaciência do Coração“, dormi, abracei, viajei e voltei a sentir-me livre, como já não acontecia desde 2019.
A poesia ajuda-me a conhecer-me melhor, ensina-me a conviver com a minha natureza sentimental (como refere Roger Wolfe), orienta-me de forma a aceitar a angústia inevitável das almas inquietas que, imprudentemente, chega como uma onda que gela. Durante a vaga gelada, terei de aprender a não me debater de imediato, pois a reacção frontal contra uma força inexpugnável conduz a um esgotamento inútil.
Serei paciente e aproveitarei a maré posterior para boiar até à baía onde tenho pé.
Sou afortunada.
Na costa, há sempre a possibilidade de abarcar a beleza extraodinária da minha vida e do mundo.
Bom recomeço!
11 de Setembro de 2021 às 18:08
Estava com saudades de cá, desse canto e de ti… embora, às vezes, te encontre lá no instagram. Mas eu sou uma criatura de blogues e adoro ler-te nesse lugar que soa como título de um bom livro de poesias.
Fico feliz que esteja a aproveitar-se… receba o meu abraço de cá e desejos de que os dias seguintes a tudo isso, sejam como um vôo de gaivota por cima do mar.
bacio cara mia
13 de Setembro de 2021 às 20:44
Obrigada, Lunna!
Estava com saudades, sim, mas às vezes temos de aterrar antes de voar.
Como uma gaivota. Bela metáfora, Lunna!
Oxalá consiga.
Bons voos, Luna!
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