O horror chegou.
Já me angustiava quando era distante, mas agora a tragédia é à nossa porta.
Como a maioria dos portugueses, tenho vizinhos e alunos ucranianos, com quem partilho várias horas do meu dia. No entanto, até há duas semanas, pouco sabia acerca do seu país: admirava a persistência dos jovens no estudo, respeitava a sua forma digna de viver, sabia algumas curiosidades culturais, 3 ou 4 palavras e umas quantas generalidades acerca da sua História.
Foi em choque que vi como a Rússia invadiu a Ucrânia.
É com horror que vejo cidades bombardeadas, ucranianas a fugir com os filhos, ucranianos a dispararem e Zelenski, muito nobre, a suplicar por auxílio europeu, perante um massacre sanguinário.
Nada justifica uma invasão militar, nem a agressão gratuita de um povo.
Ouço os analistas que me parecem mais credíveis, falo com os ucranianos que conheço, louvo os cidadãos russos que se manifestam contra um regime opressor, mas nada faz sentido.
Tal como nos pesadelos.
Só sei que a cada dia que passa, respeito mais a resistência e a valentia da Ucrânia.
Fiquei impressionada com a bravura que manifestaram na crise de 2014, contra um presidente pró-russo que traiu as expectativas dos eleitores: prometeu-lhes uma aproximação com a União Europeia e, após as eleições, cancelou as negociações com o Ocidente e consolidou acordos com Putin.
Nessa altura, a população de Kiev manifestou-se durante 3 meses, ininterruptamente, contra bastões de ferro, gás lacrimogéneo, balas de borracha e de pólvora. O manifesto sentido de união e justiça comovem qualquer bem-aventurado que esteja, por estes dias, confortavelmente sentado no sofá.
O documentário “Winter on Fire” evidencia que o povo ucraniano não se submete, nem mesmo perante a força mais brutal. Prezam a liberdade e a indepêndencia e não abdicam de valores inquestionáveis.
Infelizmente, a História mostra que esta resistência tem sido testada pelos ditadores russos nos últimos cem anos.
Holodomor (Grande Fome) foi infligido por Estaline, em 1932 e 1933, e provocou milhões de mortes. O ditador quis submeter a Ucrânia à ideologia comunista, mas os camponeses ucranianos recusaram a colectivização. Foram-lhes retirados os cereais e bloqueadas as fronteiras, ou seja, as pessoas foram cercadas para morrer. Entretando, destruiram-se vários símbolos de identidade nacional ucraniana: língua, igreja e intelectuais. Um genocídio.
É óbvio que não me tornei especialista em geopolítica de Leste, mas nesta guerra é absolutamente claro onde está o MONSTRO.