Para a rentrée, Redmond Barry não teve contemplações e abordou um tema muito doloroso: a rejeição.
Não se trata da rejeição pontual – aquela que nos derruba por uns dias, mas para a qual fomos criando artilharia de resistência – fala-nos da rejeição recorrente, aquela que acontece quando o amor de uma vida nos afasta sistematicamente.
É um tema duro.
Numa relação longa, há períodos de maior desvio e de maior cumplicidade.
Julgo que discernir o momento de persistir do momento de desistir é o grande desafio.
É preciso coragem, honestidade e lucidez para tomar a única decisão que sentimos verdadeira, qualquer que ela seja.
Com a certeza, porém, de que a um afecto unilateral não se chama amor.
Não sei se a dor da rejeição é mais vincada no feminino ou no masculino: no passado, as mulheres aceitaram-na em silêncio, a bem da sua sobrevivência, do “seu bom nome” e da instituição familiar. Tempos bolorentos que já não nos definem…
No século XXI, humanos de todos os géneros já passaram pela experiência de escolher a pessoa errada;
quase todos já ficaram demasiado tempo com a “escolha inadequada”
e outros tentaram, diligentemente, convencer-se de que, com esforço pessoal, essa pessoa poderia ainda transformar-se na certa.
Inês Maria Menezes, numa entrevista com Bernardo Mendonça, leu o seguinte excerto de Hanif Kureishi, do livro Meia noite todo o dia:
“Somos infalíveis na nossa escolha de amantes, particularmente quando precisamos da pessoa errada. Existe um instinto, uma força magnética ou antena que busca o inadequado.
A pessoa errada é obviamente certa para determinadas coisas… Para nos punir, oprimir ou humilhar, para nos desiludir, abandonar ou, pior ainda, para nos dar a impressão de não ser inadequada, mas quase certa, mantendo-nos assim presos no limbo do amor.
Não é toda a gente que é capaz de fazer isto?“
♥
As relações íntimas são tão complexas, intensas e voláteis:
às vezes, a pessoa certa metamorfosea-se e torna-se errada;
outras vezes, somos nós que deixamos de ser os certos;
e temos de reconhecer que, algumas vezes, somos nós os inadequados de uma bela história de amor a acontecer (se não fôssemos nós o erro).
Parece que a vida é feita disto: forças magnéticas, inadequações e limbos de amor, êxtase e devastação.
Mas, felizmente, “o coração ainda bate“.
Fotografia: da alemã Corinna Hopmann.
Título do post: roubado ao podcast e ao livro de Inês Maria Menezes, O Coração Ainda Bate.
16 de Novembro de 2022 às 12:15
Eu tento ser mais canina. Eles são ótimos em escolher humanos e quando não gostam de alguém, são habeis em escapar. Acho fascinante. Ainda não alcancei o nível deles, mas já escapei de alguns, rs
18 de Novembro de 2022 às 20:31
É uma excelente dica!
Vou adoptar 😉