“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Keep it simple

As reflexões proporcionadas por Redmond Barry em torno das relações foram densas e impactantes.

A discussão seguiu por semanas, pública (na página do Facebook) e privada.

A par dos balanços-charneira e decisões estruturais, são os dias sem história que constroem a narrativa de qualquer par, recente ou antigo. São esses que têm de valer a pena!

Um poema do dinamarquês Henrik Nordbrandt recordou-me a leveza e a suavidade dos primeiros encontros, quando nos aproximamos pé ante pé, “aos bocadinhos”, e tentamos perceber os formigueiros do coração.

esplanada

está a chuviscar um bocadinho

mas não tanto que se possa

chamar a isto mesmo chuva

e vamos ficando molhados lentamente

mas não tão molhados que valha

a pena falar disso

e um bocadinho apaixonados

mas não tanto que se possa

chamar a isto mesmo amor

Henrik Nordbrandt

A leveza inicial pode inspirar o quotidiano: Sting e Melody Gardot lançam o mote.

Ou seremos todos mais latinos, como os franceses, que precisam de causar periodicamente tempestades afectivas, mais ou menos controladas, para adicionar drama a uma relação que o tempo torna entediante? O minuto 7 deste vídeo explica como fazê-lo! É uma caricatura, mas reconheci a Ana de há alguns anos!

O que nos impele para a reacção plácida ou para a reacção sanguínea? Será o carácter, o temperamento, a inteligência emocional, o autodomínio, a maturidade ou a pessoa com quem nos relacionamos?

Ou serão apenas fases da nossa vida: vamos sendo arrebatados por ondas mais epidérmicas ou por vagas mais serenas ?

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Be Fu**ing Perfect

Estereótipos ainda em vigor:

O que confere poder a uma mulher é a beleza, a juventude e a elegância.

O que confere poder a um homem é a conta bancária, o estatuto social e o carisma.

Segundo este padrão, o capital masculino não oscila significativamente com a idade, nem com o peso da balança.

Não é preciso especial perspicácia para repararmos que o capital feminino fica em perigo a partir dos 50 anos.

É óbvio que esta bolsa de valores está inquinada e em transformação, mas é ingénuo pensar que uma indústria que lucra brutalmente com a disseminação destes princípios não nos influencia e não nos atormenta.

Pessoalmente, não auspicio um processo fácil, apesar de estar consciente do fenómeno e empreender uma incansável labuta interna.

É precisamente dos nossos receios e inseguranças que o crescente negócio de harmonização estética se alimenta.

Hoje, são-nos prometidas todas as soluções à la carte:

“moldar, transformar, cortar carne, alisar, aclarar, queimar a pele, comprimir e absorver mecanicamente a gordura, ingerir e injetar fármacos, toxinas, hormonas e outras biotecnologias líquidas, inserir prostéticos e implantes, enfrentar cirurgias extremas ou criar carne e contornos com silicone industrial”. – Chiara Pussetti

Instalação inserida na exposição “Be Fu**ing Perfect”

Aceitar as alterações que os anos trazem ao nosso corpo exige amor-próprio, carinho, robustez mental e muita generosidade.

Resisitir a imagens de perfeição e apelos agressivos para que encaixemos numa beleza irreal criada por técnicas de edição profissional é uma epopeia! Já não são apenas as revistas e os anúncios publicitários, as actrizes ou modelos que nunca ultrapassam os 30 anos de idade que nos fragilizam; vaguear pelo Instagram pode ser um rude golpe para uma autoestima em dia.

Até onde estamos dispostas a ir para travarmos esta luta contra o desvio, contra a gordura, contra o tempo, contra o nosso corpo?

Qual é o caminho socialmente aceitável?

– Rejeitar as preocupações estético-corporais e assumirmos o rótulo de “acabadas e descuidadas”?

– Investirmos em todos os métodos e ficarmos as “fúteis irreconhecíveis”?

Treino, estoicamente, o espírito e o corpo, assim como os afectos que me rejuvenescem mas, assumo, patrocino a indústria cosmética, com cremes, séruns, aclaradores, tintas e mil produtos capilares,… e, apesar do pavor que sinto por agulhas, não me sinto em condições para prometer o que quer que seja em relação ao meu futuro.

Abordando estes e outros temas, esta exposição, sob a curadoria da antropóloga e investigadora Chiara Pussetti, apresenta os resultados do projecto de quatro anos de investigação: “Excel. Em busca da Excelência” .

As fotografias de Evija Lavinia e Jessica Ledwich impressionaram-me e a série de debates que decorrem até 15 de Outubro na galeria Oriq são tão imprescindíveis como desconfortáveis.

Foi uma experiência tão inquietante que fez nascer um projecto, a quatro mãos, de divulgação e intervenção cultural: “Conviction, not Opinion“.

Algumas das conclusões que registo aqui são precisamente o resultado de uma reflexão conjunta com a minha amiga Carmen Santos.

Apesar de nos sentirmos almas em contínua construção, o nosso lema, hoje, é:

Be Fucking Perfect! Be fucking You!

Se quiserem ser provocados, sigam-nos!