Vivemos num tempo de mudanças rápidas.
Como em todos os períodos de transição do padrão social, há hesitações, receios, radicalismos e conflitos. Carecemos, portanto, de uma dose extra de humildade e temperança.
Sem o entendimento de que as feridas são profundas, não conseguiremos evoluir; sem a aceitação de que não somos perfeitos, não conseguiremos prosseguir.
As feridas foram provocadas por séculos de discriminações diversas.
Na verdade, a balança pendeu para um dos lados ininterruptamente: foram tempos violentos e cruéis para as mulheres e para as minorias.
Metade da população oprimiu a outra, durante os últimos séculos: basta consultar os direitos das mulheres de há 60 anos e percebemos que todos os preconceitos foram legislados e acolhidas pelas famílias que se queriam sossegadas e convencionais.
Nas últimas décadas, no Ocidente, as discriminações passaram a ser ilegais, mas não se alteram mentalidades por decreto.
Basta visitar o Portal da Violência Doméstica para o comprovar.
São números oficiais de Portugal, mas sabemos que, enquanto humanidade, temos ainda uma longa jornada.
A discriminação com base no sexo, na idade, na etnia, na religião, na orientação sexual, na deficiência e na pobreza continua a existir. Por esse motivo, a minha cidadania é atenta e ativa.
No entanto, pelas cicatrizes históricas, pela condição ainda vulnerável da mulher, pela mentalidade retorcida e medieval que ainda vigora em muitas cabeças, o meu feminismo é combativo, orgulhoso e é interseccional, uma vez que me preocupo com todas as mulheres que não são respeitadas ou tratadas com dignidade.
Os números oficiais são evidentes, mas há situações vergonhosas e escondidas e há situações dúbias.
Existem, também, oportunismos: a desonestidade não tem género, nem idade, etnia ou religião.
Mas não é por causa da exceção ou de falsos testemunhos que a regra se apaga. Não é por haver calúnias que deixa de ser essencial a denúncia.
Entretanto, à nossa volta, os ânimos exaltam-se a partir de qualquer rastilho.
Vivemos atritos quase diários: a balança pende radicalmente para qualquer um dos pratos da balança e os fundamentalismos inflamam as redes sociais a propósito de tudo e de nada. Acredito que tal durará enquanto não atingirmos o equilíbrio desejado.
Vivemos este estranho período de sensibilidades expostas, mas talvez esta seja uma excelente oportunidade para pensarmos antes de falarmos; talvez estejamos a aprender a viver em conjunto de forma mais civilizada e, para isso, tenhamos de reaprender a falar e a agir nesta nova configuração.
É difícil? Andamos mais desconfortáveis? Somos menos espontâneos?
Talvez, mas é o preço da evolução.
Se não queremos o mundo fossilizado dos nossos avós, temos de questionar frases feitas, corrigirmo-nos e reaprender, por nós próprios, as grandes certezas, até chegarmos a um novo equilíbrio das balanças.

O meu feminismo não é um equivalente do machismo, porque não pretende atacar o sexo masculino; pretende a plena igualdade entre humanos dos vários géneros.
O meu feminismo sabe de onde vem e é plenamente grato a todas as feministas que o antecederam.
O meu feminismo quer que sejamos mais corretos e generosos e que não exploremos a fraqueza do outro até sangrar.
O meu feminismo acolhe o conceito de sororidade, porque preza muitíssimo a amizade entre as mulheres, não menosprezando, todavia, com essa afeição, a presença masculina na minha vida.
O meu feminismo inclui todos os homens, aliados na luta, que têm também a responsabilidade de construir um mundo mais justo e pacífico.
O meu feminismo é abrangente ou interseccional, porque não admite quaisquer discriminações e percebe que há percursos com mais obstáculos do que o meu.
O meu feminismo é pacífico mas firme, porque não quer violência, mas não permite que o calem.
Destes e de mais feminismos falou Isabela Figueiredo na entrevista a Bernardo Mendonça, A Beleza das Pequenas Coisas. É sempre uma lição ouvi-los.
23 de Maio de 2023 às 12:13
Aqui no Brasil, os números são ainda piores, cara mia. As mulheres passaram a denunciar, mas são atacadas por isso e por mulheres que seguem rendidas ao ontem e ao padrão de que temos o nosso lugar. O evangelismo cresceu por aqui, feito erva daninha e espalha a ideia de uma mulher submissa e é um ideal para muitos homens que não querem mudar. Pior que não percebem que são tão vítimas quanto as mulheres do machismo que mata, humilha…
Não é fácil mudar. Mas aqui, todas as conquistas dos últimos anos foram para o ralo nos últimos 4 anos. Mas vamos remar tudo de novo porque somos teimosas.
23 de Maio de 2023 às 15:28
Sempre a remar, juntas!
Só temos a ganhar. Todos!
O passado ensina-nos muito, inclusivamente a não cometer os mesmos erros. Espero eu! Vivemos tempos assustadores e o que alcançámos já não é mais seguro.
25 de Maio de 2023 às 0:11
Convidamos você para participar do nosso projeto brasileiro “Escola Feminista”, uma escola on-line, além de blog feminista vegano que tem cursos gratuitos, com certificado, em torno de todas essas questões. Criamos a escola em 2020 com o fito de informar as pessoas do mundo todo sobre educação feminista, porque independentemente de fronteiras precisamos nos unir com uma postura de sororidade, como você mesma disse.
Atenciosamente,
A equipe da Escola Feminista.
25 de Maio de 2023 às 21:44
Obrigada!
Muitos parabéns pelo projeto!
Já visitei e gostei muito!
Juntas, chegaremos mais longe!