“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Viajante

As crises empobrecem-nos:

a carteira, os sonhos e o espírito.

Digital StillCamera
  Viajar leva-nos a outras geografias: do planeta e da nossa alma.

Observamos os outros e observamo-nos.

Regressamos e reencontramo-nos.

Portofino

Estas fotografias são do tempo em que fazíamos viagens anuais.

Digital StillCamera

São do tempo em que dizíamos:

-We have expensive taste, but no money.

Mas íamos e  descobríamos mercados locais inesperados.

Veneza mercado local

E roupa estendida na corda que nos recordava as nossas origens latinas.

Veneza roupa estendida

Agora, todos percebemos que nunca viveremos fora da “crise” que inventaram para nós e que o melhor é ir vivendo e viajando!

As memórias das viagens talvez sejam mesmo a melhor herança que deixaremos aos nossos filhos!

Assim, retomámos, aos poucos, o bom hábito, apesar da crise (já não nomeada), para que não nos esvaziem os sonhos!

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Take me to Greece

Por motivos estéticos, filosóficos, pessoais e políticos copio o título e as imagens do blog French by Design.

Grécia

Grécia 2

Grécia 3

Sem PIB´s, deficit ou juros da dívida externa.

Todos os meses contribuo, coagidamente, com parte do meu justo salário.

Ainda não percebi bem quem o recebe.

Palpita-me que não vai para quem precisa dele.

Entretanto há um alvo bem maior do que o meu contributo mensal.

E já está, alegremente, em acção.

A Mariana Mortágua aponta-o.

“Ainda me lembro da primeira (e única) loja dos 300 que abriu na minha terra.

Ficava ali a seguir ao largo da Câmara, logo depois do talho da Fatinha, e vendia tudo, mas mais barato.

Ontem, quando olhei para as capas dos jornais, senti-me a viver numa loja dos 300.

Os chineses da Fosun dizem que Portugal é o melhor país da Europa para vir às compras.

Não vêm comprar sapatos, nem vidro da Marinha Grande, querem as empresas.

Em três jornais distintos aparecem ligados a negócios na saúde, turismo, agricultura e comunicação social.

Não para investir ou criar emprego, mas adquirir o que já existe e foi, tantas vezes, criado com o nosso dinheiro.”

 

Há muito que perdi a fé nos partidos, mas ainda acredito nas pessoas e nas ideias…

Ontem foi o Presidente de Oliveira do Hospital


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Miséria

Imagens degradantes de seres humanos.

Não, não são humanos.

Não podem ser.

São “refugiados”.

São “imigrantes clandestinos”.

Comem o que encontram, dormem no chão, morrem.

Contraio-me.

Contorço-me.

60 000 000 pais, filhos, irmãos, tios, primos.

Metade são crianças!

Metal pesado no estômago.

A Beatriz!

Náusea.

Crianças.

Desorientação.

 

Recomeçam as urgências do dia:

a louça, o banho, a mochila, a lancheira, a história,…

A Terra dá outra volta e as imagens de horror esbatem-se distantes e a indignação adormece.

A vida continua.

Para nós.

 

Há quem se levante e seja humano.

O Presidente de Oliveira do Hospital.

Não sei quem é, não conheço a cor política, nem o passado.

Nem me interessa.

Quer receber 10 famílias e todo o agregado familiar.

Tem 10 casas, quer integrar 30/40/50 crianças nas escolas do seu município.

 

No meio da miséria – material e humana – uma pequenina luz bruxuleia.

 

 

 


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Caminhos-de-ferro

As linhas de comboio e os túneis fazem parte das minhas memórias de infância e das da minha família: vivemos perto do túnel das Alhadas (uma vila perto da Figueira da Foz) – uma notável construção do último quartel do século XIX.

A minha Avó era do tempo da tradição de “furar o túnel” e fê-lo, com o meu Irmão e com a minha Mãe, já com 80 anos.

A minha Mãe corria todos os dias para o apeadeiro para ir de comboio para o Liceu.

Eu e a minha prima do coração fazíamos piqueniques com leite cor-de-rosa (um pó maravilhoso que o meu Tio Manel trazia de terras distantes)… perto do túnel.

Por todos estes motivos sinto-me muito feliz quando vou com a minha prima, trinta anos mais tarde, passear junto à linha de caminhos-de-ferro.

caminho de ferro

Em excelente companhia.

tita

Muito discreta e com quem partilhamos segredos e confidências.

Tita t

Embora, às vezes, não disfarcem sorrisos como este.

cão a sorrir

A única tristeza é que, num golpe de génio, num país de pessoas pobres, acaba-se com um meio de transporte acessível, depois do investimento em caminhos-de-ferro estar feito.

Mas de golpes de génio já estamos todos saturados!

 


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Política

Quando alguém me fala dos empregos criados pelas grandes superfícies e pelas grandes empresas nacionais e internacionais,  eu penso em todos os empregos que se perderam, todas as lojas de bairro que fecharam, todas os pequenos produtores e intermediários que foram cilindrados.

Se este discurso é de esquerda ou de direita, pouco me interessa.

Há muito que os meus actos políticos se distanciaram dos partidos.

E, quer tenhamos consciência ou não, a verdade é que quase todos os nossos actos são políticos.

margarida mf ceramista

Desde o que escolhemos tomar ao pequeno-almoço, à quantidade de sapatos que temos, à forma como nos deslocamos, ao que fazemos ao fim-de-semana (enchemos os centros comerciais?), aos móveis que compramos no IKEA, ao que decidimos reciclar e trazer para nossa casa; à música que ouvimos ou aos livros que lemos.

Comprar muito e barato ou pouco e mais caro também são decisões com implicações globais e, consequentemente, políticas.

mf ceramista

Optar por marcas brancas ou por marcas portuguesas com tradição faz a diferença entre nos “globalizarmos” ou mantermos a nossa identidade.

Mas são mais caras!

Pois são, porque implicam mais despesas.

Mas será que precisamos mesmo de comprar tantos pacotes/t-shirts/sapatos, …?

Acho que tomei a verdadeira noção das consequências dos meus atos, quando me reaproximei da terra, comecei a trabalhar com as mãos e quis deixar o mundo um local melhor para a minha filha.

Reduzi consideravelmente o consumo, reciclo roupa, móveis, tenho o carro mais velho dos parques de estacionamento das imediações e tento ser mais autónoma através da horta.

Consegui mudar todos os antigos hábitos e vícios?

Não, mas sei qual é o caminho.

mf ceramista 2

Todas estas peças tão bonitas e delicadas são deste atelier.

Esta entrevista é de alguém que levou esta experiência ao limite.


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Caminhar

Há 45 anos, uma mulher só podia ter passaporte, se o marido autorizasse.

Há 40 anos, 70% das mulheres portuguesas eram donas de casa (e, infelizmente, nem todas por vocação).

Há 40 anos, o salário de uma mulher era, em média, 67% do salário de um homem.

Há 40 anos, só algumas mulheres com curso secundário ou superior podiam votar.

Há 40 anos, uma mulher não tinha acesso à magistratura ou à carreira diplomática (mesmo que evidenciasse especial vocação para tal).

Há 40 anos, a licença de maternidade esgotava-se em 15 dias.

Abril abriu-nos as portas.

A partir daí, muitos tiveram e têm como objectivo de vida fechá-las.

O último ponto desta lista (muito incompleta) arrepia-me.

Quinze dias após o parto, uma mulher não está apta para trabalhar: nem fisicamente, nem psicologicamente.

Cinco meses após o parto, eu não estava apta para trabalhar.

Mas fui.

Em 2011, ninguém me informou (e se perguntei…) acerca do artigo 51º “Licença parental suplementar”, a) Licença parental alargada, por três meses (do decreto de lei nº30 de 12 de Fevereiro de 2009); que possibilita que a mãe ou o pai gozem mais três meses de licença para além dos quatro ou cinco bastante divulgados.

Nessa altura, apenas se falava do 5º mês de licença, com um corte de 20% do ordenado.

A partir do momento em que li a lei, tenho partilhado com todas as grávidas que conheço esta descoberta legalizada mas tão estranhamente desconhecida. Todas, sem excepção, passaram os oito meses em casa com os seus bebés, apesar dos fortes descontos nos ordenados.

Oito meses são melhores do que quatro; quatro meses são melhores do que um (que a minha Mãe teve); um mês é melhor do que os vergonhosos quinze dias de há quarenta anos.

Mas há um longo caminho a percorrer.

Por todos os países conhecidos como civilizados.

A bem do nosso futuro.

bebé The glow

Este bebé veio do blog “The Glow” que nos presenteia com belíssimas fotografias de mães que conseguem conciliar a maternidade com extremo sucesso profissional e beleza. São, como se sabe, uma minoria.

Excelentes fotógrafos e uma equipa de profissionais à volta também ajudam ao “glamour” das sessões fotográficas.

É um blog impróprio para os dias de trabalho em que saímos a correr, sentimos que estamos a viver a grande velocidade um erro de “casting” e ainda chegamos a casa com sentimentos de culpa por termos passado o dia longe dos nossos filhos.

Às vezes, por mais estúpido que seja, acontece-me.

 

 

 

 


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Sonho

Transcrevo, de memória, um excerto de uma entrevista:

Judite de Sousa: Mas vivemos numa democracia.

José Saramago: Acha que vivemos em democracia? Eu não. Sente-se representada por quem nos governa?

Judite de Sousa: …

José Saramago: Acha que os responsáveis políticos têm como objectivo a defesa dos interesses dos cidadãos do seu país?

Judite de Sousa: …

 

No dia em que vivermos numa Democracia, eu rejubilarei.

Para já, é demasiado triste e revoltante pensar quão longe estamos dos ideais de há quarenta anos.

Desejo, do fundo do coração, voltar a comemorar o 25 de Abril!

 


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O mundo está mais pobre

Os dias não são todos iguais, mas nós vivêmo-los como se fossem.

Hoje o mundo acordou mais pobre.

Por motivos vários não vou estar presente.

Mas sei que o meu Tio vai receber estas flores. E gostar!

Foi viver para a cidade aos 14 anos, mas nunca deixou de pertencer ao campo.

Por muito que sejamos (e nos queiram fazer) urbanos e cosmopolitas, as raízes estão lá.

São elas que nos definem e conduzem.

Cada vez concordo mais com esta e outras frases do ancião lúcido e tranquilo da família.

Nada será como dantes…

flores

Até logo, meu Tio!


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Cristal

Este blog costuma ser luminoso.

Regista a felicidade e a beleza dos dias.

Mas este blog também é intimista, disse-me a minha prima Graça.

Há que registar as fra(n)quezas.

Primeira: às vezes não me sinto preparada para sobreviver a este mundo: sou assim do tamanho da Arrietty.

E só quero viver longe daqueles que destroem a Beleza.

Não percebo quem não quer viver no meio de flores enormes e sentir-lhes o perfume.

Quem ataca gratuitamente, quem dificulta intencionalmente, quem é maledicente, quem incha com um poderzinho… e cultiva essas características.

O meu mundo é outro.

Os meus defeitos são outros.

Afonso Cruz

Sou mais como o Bonifaz Vogel de Afonso Cruz.

Da mesma forma que não compreendo quem não vive para a harmonia e para as artes, tenho perfeita consciência de que não sou compreendida por quem vive para a discórdia e para a desafinação.

A solução?

1-Evitar e ignorar pessoas tóxicas; parar de analisar quem não age com a razão/ coração.

2-Manter a cápsula onde vivo limpa e imune.

3-Acreditar que existem mais Arriety e Bonifaz do que elefantes!

E sei que quem me lê também é um cristal; os elefantes não sabem ler…

N.B. A imagem do livro A Boneca de Kokoschka, de Afonso Cruz, é do blog Alice.


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Primos

Os nossos pais viveram sempre na mesma cidade.

Nós precisamos de nos situar geograficamente se falamos ao telefone.

Quando éramos pequenos, corríamos pelo pátio, pelos quintais, atrás das risadas e dos chilreios.

Agora continuamos a correr, sempre atrasados, sempre em urgências.

Dantes falávamos de viagens, projectos, sonhos e pequenos luxos.

Hoje falamos da crise, da precariedade dos nossos empregos; evitamos os projectos adiados e já nem referimos os sonhos adormecidos.

O que aconteceu ao brilho que nos antecedia?

O que está a acontecer à nossa pátria que, como diz o Caetano, devia ser mátria?

Tomai lá do O´Neil

Opressão paint

Para todos os primos da minha geração: Nós não somos os perfilados de que fala O´Neil!

Perfilados de medo

Perfilados de medo, agradecemos

o medo que nos salva da loucura.

Decisão e coragem valem menos

e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,

perfilados de medo combatemos

irónicos fantasmas à procura

do que fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,

o coração nos dentes oprimido,

os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,

já vivemos tão juntos e tão sós

que da vida perdemos o sentido.