“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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A boy can too

-Já viste o filme “Brave“?

– Não, é filme para meninas! – F., 5 anos.

Como?!

De onde vem este preconceito?

Por acaso a protagonista do filme Brave é uma menina, mas é um filme sobre o crescimento, o auto-conhecimento, cheio de adrenalina e aventura, para além de efeitos especiais espectaculares.

Às vezes, penso que estou a preparar a minha filha para um mundo que ainda não existe (a minha esperança reside precisamente no “ainda”).

Os pais dos meninos têm igualmente um grande percurso a percorrer.

Uma luta contra o preconceito que limita as meninas (e futuras mulheres), mas também contra as ideias feitas que existem acerca de  “ser rapaz”!

A genuinidade (e eventual genialidade) dos meninos é oprimida pela sociedade em que vivemos.

Um exemplo trivial:

Quantos pais permitem que os seus filhos frequentem aulas de ballet?

Em Estremoz, conheço apenas um menino que frequenta as aulas, mas quando a Beatriz iniciou as aulas foram vários os meninos que manifestaram vontade de acompanhar a Beatriz.

Alguém os impediu…

No século XXI!

Numa escola da cidade, há um jovem que pinta as unhas de preto.

E provoca risinhos e comentários maldosos dos outros jovens e… de adultos!

É, com certeza, um menino forte e no bom caminho para ser um homem fiel à sua vontade e bem resolvido, sem medo do que vão dizer/pensar dele.

Com roupa de princesa, não vi qualquer menino, nem no Carnaval.

O que desejo é que as crianças se resolvam bem na infância, experimentem e se descubram sem quaisquer limites de género, mas apenas tendo como condicionante a sua vontade genuína, passe ela por usar/fazer/pensar ou não usar/fazer/pensar o que há bem pouco tempo era apenas permitido ao universo feminino ou masculino.

As fotografias pertencem ao projecto A Boy Can Too que me conquistou logo de início: o nome diz tudo, mas visitem o site e vejam as fotografias.

 

 

 

 

 

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Exterior

Eu e a minha prima temos uma “private joke” que consiste em dizer “espaço exterior”.

Não dizemos pátio, nem terraço, nem varandim, nem açoteia.

Usamos a terminologia dos sites de decoração.

E rimo-nos do que não tem graça para mais ninguém, como se ainda andássemos as duas na secundária ou na faculdade, enquanto falamos, como “senhoras” que insistem em chamar-nos, de tintas, vasos, almofadas e tapetes… do espaço exterior.

Ora o meu espaço exterior é muito vivido ao fim do dia, para sentirmos a brisa fresca do início da noite, para fugirmos dos ecrãs, para olharmos para as estrelas e para só ouvirmos as nossas vozes.

Decidimos não comprar mobiliário e vasculhámos o sótão: encontrámos umas cadeiras antigas de praia.

espaço exterior antes da remodelação

comer bolo no exterior

Estava minimamente agradável, mas a precisar urgentemente de uma das actividades de Verão preferidas do Alentejo: ser caiado.

vasos com giz

E foi assim que desceu em mim um espírito alentejano e passei uns dias das férias a pintar um quintal com paredes intermináveis.

Acho que depois desta empreitada e da do ano passado estou praticamente apta a caiar uns montes alentejanos… pequeninos, para já.

No próximo post, publico as fotos do quintal novo: ainda ando a recuperar os pulsos…

 

 

 

 


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Anos 70

Nos anos 70, os lares portugueses deslumbraram-se com os electrodomésticos.

Ora eu pertenço à geração de 70 e vi esse boom: algumas geringonças entraram e subiram directamente para a prateleira mais alta da despensa, mas houve inovações que ficaram até hoje.

A máquina de sumos da minha Mãe: dá tanto trabalho a limpar que, por vezes, evito usá-la só para escapar a esse momento.

máquina de sumos

Quando a uso fico sempre encantada com o sabor da fruta e com a consistência do sumo.

Sumo de beterraba, laranja e maçã.

Sumo de pêra, maçã e cenoura.

Sumo de laranja, maçã e cenoura.

Sumo de maquina de sumos

Faltam os bigodes cor-de-laranja da Beatriz.

A iogurteira veio connosco para Estremoz e é usada todas as semanas.

Não deixo de pensar que os utensílios que pretendiam facilitar a vida doméstica das mulheres são agora demasiado lentos.

Ou melhor, quanto mais rápidos são os objectos que nos rodeiam maior a velocidade a que nós estamos sujeitos.

As inovações não surgem para nos facilitar a vida ou para nos deixar mais tempo livre: aparecem para nos fazer correr mais depressa.

É pena que assim seja!

iogurteira


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Cheesecake de morangos

O cheesecake da Mafalda volta a visitar-nos.

Ainda sem maracujá…

cheese cake morango2

Experiência 2:

1 pacote de bolachas digestivas, sem açúcar, esmagadas com 100g de manteiga sem sal;

4 colheres de sopa de água quente;

2 colheres de sopa de gelatina em pó;

12 morangos cortados ao meio;

sumo de 10 morangos;

250 g de queijo mascarpone;

250g de natas frescas;

150g de açúcar fino

1- Forre a base de uma forma de tarte com papel vegetal.

2-Preencha-a com as bolachas trituradas, comprima e reserve no frigorífico.

3- Dissolva a gelatina em água quente.

4- Bata o queijo, as natas e o açúcar, até obter uma mistura muito cremosa.

5- Junte o sumo de morango.

6- Adicione a gelatina.

7- Bata e coloque o preparado na forma.

8-Depois de endurecer um pouco no frigorífico, decore com doce de morango Frasco de Memórias e morangos frescos.

cheese cake morango2


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Gentileza

Gentileza – qualidade de quem é gentil.

Se há dias em que andam a rudez e a indelicadeza à solta, há também dias em que a gentileza e generosidade deslizam de mãos dadas e nos encontram.

Fomos ao mercado de Estremoz, como todos os Sábados.

Comprámos hortaliças, ofereceram-nos laranjas.

Comprei esta concha para verter os doces. Finalmente, encontrei-a!

concha

cabo da concha

E ofereceram-nos esta delicadeza que a Beatriz adorou.

E eu também…

Faz-me lembrar os fiozinhos de ouro que usávamos na escola primária, nos anos oitenta.

fiozinho

Comprei um paninho para a jarra da água.

paninho jarra

Ofereceram-nos outro.

paninho jarra 2

Numa manhã solarenga, cheguei a casa com o carrinho cheio, mas sobretudo com a alma aconchegada de presentes e sorrisos delicados.


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Garimpar

Quando referi o móvel da minha Bisavó Celeste, a Helka do blog Forma: Plural utilizou a expressão garimpar.

É a palavra que melhor traduz o que faço: recolho objectos antigos, mais ou menos usados, como se fossem pepitas de ouro ou pedras preciosas.

Já falei da feira de velharias no post sobre o mercado de Estremoz.

Mas o meu espírito recolector estende-se a todas as áreas.

Fico especialmente satisfeita quando me oferecem/emprestam roupa de criança com história, como este casaco que já foi usado pela prima Carminho e agora passeia com a Beatriz. Ou o capuchinho azul da Maria João, a filha da Palmira.

Uma confissão: não consigo usar roupa em segunda mão cuja proveniência desconheço.

Apesar de todo este discurso, tenho cá as minhas esquisitices. Talvez um dia lá chegue…

camisola

Fico também radiante com prendas como estas da filha da Palmira e da filha da Amélia.

livros dados

Às vezes sinto-me mesmo uma respigadeira, sobretudo quando recolho o que está condenado ao fim ou quando olho para os contentores do lixo. Foi um hábito que ganhei com um grande amigo e que já me valeu alguns tesourinhos.

Como esta porta-espelho recuperada por ele.

porta

Numa casa antiga e enorme como a de Estremoz encontrei um manancial incrível e, como existem poucos móveis para arrumação, decidi procurar e aproveitar o que já estava abandonado há muitos anos.

As toalhas da Beatriz arrumam-se num cesto que veio da Ilha da Madeira com presentes para toda a família.

Na altura em que se traziam muitas lembranças e os cestos iam no avião sem complicações.

cesto das toalhas

cesto inteiro

E os sapatos descansam das correrias do dia numa mala muito viajada e que já atravessou várias vezes o Atlântico.

mala e sapatos

Como só estou há três meses nesta casa “tão grande”, sinto-me uma garimpeira com muito por explorar.

E com esperança de muito “bamburrar”.

Esta expressão foi mesmo para impressionar – “bamburrar” :

Expressão utilizada pelos garimpeiros, para definir sorte no trabalho, acertar na  procura de um diamante precioso, achar uma pedra de grande valor, ficar rico, sucesso financeiro, sucesso na vida.

Eu também não conhecia!


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Recuperar

Um post sobre economia doméstica, imbuído do espírito deste livro.

Nos anos 70/80 todas as casas tinham uma iogurteira.

Por vários motivos: falta de tempo, excesso de oferta nos supermercados, prazos cada vez mais dilatados, capricho, vício do açúcar, presunção de modernidade… e comodismo, este simples electrodoméstico desapareceu, durante décadas, da minha vida.

É da minha Mãe e, agora, é usado quase todos os dias.

iogurteira

A Beatriz é a cozinheira:

1 litro de leite do dia Vigor (Gordo);

1 colher de sopa de leite em pó;

1 iogurte natural.

Mistura-se tudo muito bem e passam a noite na iogurteira.

Têm um sabor e uma consistência muito superiores aos de compra.

Outra preciosidade: da minha Avó Rosa.

A panela de pressão.

Gosto do nome, do tamanho e da forma.

panela de pressão

Uso-a com pressão e como panela normal.

Depois da braseira e da escalfeta terem sido recuperadas, chegou a vez da salamandra.

O conforto da casa, com o calor do início dos tempos, é imbatível.

O lar e o fogo sempre estiveram ligados.

O “lar” é a pedra onde se acende o fogo.

O lar é onde está o calor no final do dia.

lenha

Outro hábito recente: Semear.

Alimentarmo-nos do que vemos nascer dá-nos tranquilidade e poder.

Nesta Primavera, vamos trazer as nossas sementinhas para Estremoz.sementinhas

E ainda tenho um longo caminho a percorrer…

Um dia hei-de organizar-me e fazer o meu pão.

A receita fica aqui para eu não me esquecer.

pão

A fotografia é da autora de um blog imperdível Panelas sem depressão.

Por cima do pão: a forma mais doce de aproveitar o excesso de fruta da estação.

doce de morango

Hábito da casa, muito anterior ao Frasco de Memórias.

Doce de morangos inteiros com baunilha.

 

Eu ainda não fiz o pão do blog Panelas sem depressão… grande vergonha!

Mas vejam o pão da Joana e da Flor de Lima!

Que cheirinho!


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Vidros

Sábado de manhã é dia de mercado em Estremoz; e de feira de velharias.

Há algum tempo que precisávamos de uma jarra para a água, mas não encontrava nada suficientemente bonito e prático que pudesse ser usado todos os dias.

Quer dizer, no supermercado é capaz de haver muitas jarras, mas não são tesourinhos.

Até que encontrei uns vizinhos da Marinha Grande a vender na feira de Estremoz.

Para além de ter achado graça ao facto da minha noção de vizinhança se ter alargado muito nos últimos meses da minha vida (estes senhores vivem a 70 km da Figueira da Foz), encontrei tantos vidros bonitos que foi difícil vir para casa só com a jarra.

jarra


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Um dia

Vai ficar assim, como este da Iris, do blog Snapshots of Home:

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Mas ainda está assim…

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A imagem assustadora é do móvel da minha bisavó Celeste.

Provavelmente vou manter esta cor.

Provavelmente vou admitir que não tenho tempo de uma vez por todas.

Provavelmente vou ter de contratar o Sr. Eugénio, carpinteiro.


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Bule

Na feira de velharias de Estremoz, encontrei uma memória do sótão da minha avó.

Deixei-me, novamente, levar pela surpresa do momento e trouxe-a.

DSC02144

E chegou a hora de assumir: vou reunir todas as peças soltas que encontrar.

A mudança vive dentro de nós…

Sempre detestei colecções e afinal descubro que tenho qualquer coisa de coleccionadora dentro de mim.

Coleccionadora de memórias.