Enthousiasmos deriva da união de duas palavras gregas: en e theos.
En significa dentro. Theos significa deus.
Assim, enthousiasmos significa, literalmente, ter um deus dentro de si.
Segundo Coimbra de Matos, o entusiasmo que sentimos é o melhor barómetro da nossa saúde mental.
A intensidade da centelha divina que nos habita é o indiciador do ânimo da psique.
Por outro lado, o desânimo, aliados à fuga da convivialidade, são importantes sinais de alerta.
Por muito solitários que sejamos – e que bom que é estar sozinha e no silêncio – só existimos e nos completamos em relação.
Às vezes, tocamos na alma dos outros, outras vezes não, mas na relação é que reside a possibilidade transformadora: é dela que sai o autoconhecimento, o crescimento, a cura e a criação.
Para o psiquiatra, a ordem é a seguinte:
“Penso porque existo.
Existo porque fui amado.”
A razão e o pensamento definem-nos, mas a existência só faz sentido porque temos um mundo relacional.
Quando ficamos indisponíveis para esse mundo, a pausa é obrigatória, assim como a introspeção e uma posterior ação.
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Talvez alguns de nós tenham sido projetados para trabalhar.
Quanto a mim, surgi na Terra para contemplar e criar.
É por isso que sofro com o ritmo de vida que não me permite o tempo e a disponibilidade para me concretizar enquanto humana.
A essência da vida humana é criadora:
criar arte, criar amizades, criar amores, criar crianças, criar refeições, criar mundos íntimos (através da arte inventada pelos outros).
Quando não concretizamos a nossa missão, mirramos e enferrujamos como peças velhas de uma engrenagem que montaram para nós. Os ossos doem, as articulações gastam-se e o cérebro perde as cintilações divinas do entusiasmo.
A depressão instala-se.
Fragilizados, perdemos a capacidade de dizer não.
“Não” é a única palavra que permite criar algo de novo: só se recusarmos o que já existe, traçaremos um novo caminho.
É esta a palavra preferida das crianças que precisam de desobedecer aos pais, porque urge mostrar-lhes que um novo ser chegou e as regras têm de ser redefinidas.
Crescemos e perdemos a aptidão natural de revolta, acumulamos “sins” e frustrações.
Sofremos porque ficamos, de facto, doentes e sofremos porque, nesta sociedade de sucesso e alegria imposta, sentimos, como nunca, a nossa desadaptação.
O quadro é de Eugène Boudin (França, Honfleur 1824–1898 Deauville); chama-se Beaulieu: a baía de Fourmis.
Neste momento, sob o signo do Sol e das divindades, fiquei entusiasmadíssima com a ideia de visitar a baía de Fourmis, em Beaulieu.
Algumas destas ideias aprendia-as neste documentário de Raquel Varela, “O Olhar nos Outros”, RTP2.
Outras aprendi-as com a vida e com aqueles que me tocaram a alma.