Quando alguém me fala dos empregos criados pelas grandes superfícies e pelas grandes empresas nacionais e internacionais, eu penso em todos os empregos que se perderam, todas as lojas de bairro que fecharam, todas os pequenos produtores e intermediários que foram cilindrados.
Se este discurso é de esquerda ou de direita, pouco me interessa.
Há muito que os meus actos políticos se distanciaram dos partidos.
E, quer tenhamos consciência ou não, a verdade é que quase todos os nossos actos são políticos.
Desde o que escolhemos tomar ao pequeno-almoço, à quantidade de sapatos que temos, à forma como nos deslocamos, ao que fazemos ao fim-de-semana (enchemos os centros comerciais?), aos móveis que compramos no IKEA, ao que decidimos reciclar e trazer para nossa casa; à música que ouvimos ou aos livros que lemos.
Comprar muito e barato ou pouco e mais caro também são decisões com implicações globais e, consequentemente, políticas.
Optar por marcas brancas ou por marcas portuguesas com tradição faz a diferença entre nos “globalizarmos” ou mantermos a nossa identidade.
Mas são mais caras!
Pois são, porque implicam mais despesas.
Mas será que precisamos mesmo de comprar tantos pacotes/t-shirts/sapatos, …?
Acho que tomei a verdadeira noção das consequências dos meus atos, quando me reaproximei da terra, comecei a trabalhar com as mãos e quis deixar o mundo um local melhor para a minha filha.
Reduzi consideravelmente o consumo, reciclo roupa, móveis, tenho o carro mais velho dos parques de estacionamento das imediações e tento ser mais autónoma através da horta.
Consegui mudar todos os antigos hábitos e vícios?
Não, mas sei qual é o caminho.
Todas estas peças tão bonitas e delicadas são deste atelier.
Esta entrevista é de alguém que levou esta experiência ao limite.