“Quando o amor acaba, a tragédia é minimizada porque já sabíamos que “o amor acaba”.
O fim de uma amizade é uma surpresa mais chocante”, escreveu [Mexia] numa crónica para o PÚBLICO, em 2008, intitulada Teoria geral do ex-amigo. “A mitologia diz que os amigos são indestrutíveis e eternos. Há, por isso, um grau de decepção no fim de uma amizade que cobre de vergonha os envolvidos.”
De um amor que desaparece pode dizer-se que se confundiu o amor com uns olhos azuis, como ironizava Mexia na crónica. “Nunca mais me apaixono”, ouve-se tantas vezes. Vale o que vale, mas quem já não viu alguém mais ou menos abalado fazer essa promessa?
Este artigo do Público atingiu-me e ajudou-me a verbalizar sentimentos.
Também eu perdi um amigo.
Não foi a distância geográfica ou a vida do dia-a-dia que nos afastou: penso que estas circunstâncias até se aceitam – encolhemos os ombros e pensamos “É a vida!” e, pelo menos, temos uma desculpa (ainda que aparente) que justifica o fim da relação.
Mas e quando um amigo diz que não quer mais ser nosso amigo? Que precisa de se afastar?
Durante anos não me conformei e insisti.
Lutei por essa amizade como nunca lutaria por uma relação amorosa.
De facto, estamos preparados para ver um grande amor partir: sabemos que ficamos devastados, que vamos chorar muito mas, enfim, também sabemos que nos vamos levantar.
Em relação aos amigos, encaro-os com a seriedade com que se encara um grande amor, mas pensando que não vai ter fim:
Foi uma sorte o nosso encontro e a vida fica mais leve se for partilhada contigo!
Foi por isso que não aceitei o fim.
E por ver uma pessoa tão importante da minha vida a desaparecer.
E por ver a minha vida a ficar mais pobre.
Fica assim um vazio, uma sombra cinzenta no coração.
A tristeza que fica perdura no tempo. “Uma tristeza mais suportável e mais duradoura que a tristeza amorosa”, nas palavras de Pedro Mexia.
Uma tristeza que fica, apesar dos anos.
Imagens do blog de Saar Manche.