“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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Patine

escritório vintage

Patine – do francês patinedo italiano patinacamada que recobre algovelatura;

coloração natural ou conjunto de resíduos ou depósitos quenum objecto ou num imóvel mostram a marca do tempo e do envelhecimento.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
ArianeDalle armário antigo integrado na decoração
É a patine que dá alma aos objectos e às pessoas.
A minha casa é velha e tem patine.
Já sofreu obras mas a patine mantém-se.
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A falta de dinheiro tem só essa vantagem: não proporciona remodelações megalómanas e irreconhecíveis…
As casas remodeladas que visitei na minha rua estão absolutamente incríveis, mas perderam a alma que a minha ainda tem.
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Por aqui, a remodelação e a decoração são, por todos os motivos, processos muito lentos e que incluem reaproveitamento.
Os objectos, novos e velhos, andam  à procura do seu lugar…
por vezes durante anos.
ArianeDalle sala de estar
De tantas imagens que procuro e guardo, acredito que o brainstorming vai acontecendo e que os salões vão ganhando, muito lentamente, sentido.
ArianeDalle quarto
Vai demorar, mas quem tem pressa?
Aprendi, no Alentejo, que a calma é uma importante virtude.
JohnDerianNYC_SKJ_24
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casa de banho vintage
É verdade que, periodicamente, fico ansiosa com o facto das divisões estarem tão evidentemente inacabadas, especialmente o meu escritório, mas sei que a impaciência é um dos meus piores defeitos.
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Todas as imagens são do blog HWTF.
ladders_Escada antiga como candelabro de jardim


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Pássaros azuis

A propósito da proliferação de programas de televisão hediondos que transformam as relações entre humanos num espectáculo sórdido;

A propósito desta fúria de publicar todos os momentos da vida, esquecendo o significado da palavra intimidade;

A propósito de declarações despudoradas nas redes sociais e #amordaminhavida / #morroporti;

surgem-me as palavras de Egito Gonçalves:

Katharina_Geber_photography_03

“Uma declaração de amor não é acontecimento do domínio público, uma baleia que vara na praia sob o sol dos desastres e convoca multidões, desalinhando hábitos quotidianos;

uma declaração de amor é um acto de grande intimidade que ergue um véu transparente de onde brotam mel e pássaros azuis. As palavras directas ou indirectas, ditas ou escritas, suscitam a carícia única, irrepetível, a leve percussão que desenha no silêncio a imagem do que se ama.

E assim terá de se guardar. Num lugar seguro onde os sismos não possam encontrar o mapa do tesouro. ”

Egito Gonçalves, O Mapa do Tesouro

Katharina_Geber_photography_IGNANT

As fotografias são da alemã Katharina Geber, do meu site de eleição IGNANT.

Katharina_Geber_photography 2019


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Eliete

A Eliete tem quarenta e dois anos e uma vida aparentemente comum, uma “vida normal”, como escreve Dulce Maria Cardoso, na capa do seu último livro.

Quarenta e dois anos e uma “vida normal”… tal como eu.

oznor

“Quando acabei de me maquilhar no espelho da casa de banho e me vi depois no de corpo inteiro, fui surpreendida por uma mulher atraente. Não me pareceram trágicas as marcas dos mais de quarenta anos de vida, admirei o meu cabelo forte, apesar de saber as suas raízes a embranquecerem, e agradou-me que as rugas dessem algum mistério aos meus vulgares olhos castanhos. Fiz passar com vagar o indicador direito ao longo do contorno do meu rosto que, ao começar a indefinir-se, ganhava finalmente caráter. Descobri, como quem entrevê um velho conhecido ao longe, as minhas feições de jovem adulta. A jovem adulta que fora igual a milhões de jovens adultas de beleza mediana dera lugar a uma mulher que carregava uma história, e a minha história distinguia-me de qualquer outra. Até o dente torto que tanto me atormentou se afirmava agora único entre os sorrisos certos e demasiado brancos das clínicas de implantes espanholas. Não cheguei a enterrar o machado de guerra, mas aceitei as tréguas que o meu corpo a envelhecer me oferecia, se não nos podíamos separar teríamos de pelo menos arranjar maneira de ficarmos em paz, e quanto mais unidos estivéssemos mais imbatíveis seríamos perante os outros.”

Num arrebatamento saudável mas infantil, só me ocorre dizer que Dulce Maria Cardoso é, neste momento, a minha escritora preferida!

Sérgio de Almeida Correia argumenta no Delito de Opinião!

 


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Disfarces

Nos dias que correm, qualquer figura pública publica um livro.

Infelizmente, nos dias que correm, o comum mortal é elevado ao estatuto de figura pública apenas porque aparece na televisão ou no youtube.

Ora nós sabemos que surgem as mais incríveis nulidades e aberrações na televisão e no youtube….

Mais espantoso ainda é que quem escreve um livro intitula-se escritor.

O total absurdo acontece quando os restantes o legitimam e também lhe chamam escritor.

A palavra banalizou-se e, há bem pouco tempo, ouvi dizer que o Gustavo Santos era escritor. O meu queixo caiu… e ainda lá está!

 

Mas o que é um escritor?

Não é, definitivamente, quem escreve livros.

A minha definição favorita é de Simone de Beauvoir:

O escritor original, enquanto não morre, é sempre escandaloso“.

Mário de Carvalho salienta a função do escritor:

“O escritor faz um trabalho raro e único.

O escritor, tal como os outros artistas, é o garante de uma identidade nacional.

Todos os artistas que lidam com os sonhos dos homens merecem ser reconhecidos e mais bem remunerados que um gestor.”

Bobby-Mandrup_IGNANT

Infelizmente, só um país com pouca formação literária pode usar a designação “escritor” indiscriminadamente.

Como não tenho por hábito aderir a folias carnavalescas, há dias em que acho mesmo que preciso de um cigarro!

Este é do fotógrafo Bobby Mandrup.