Ainda este livro…
É a 8ªedição e custou 35 escudos.
(Já não encontrei cifrões nos teclados: o início da perda da nossa soberania).
Este livro é o retrato de uma geração.
Quando era mais nova pensava que sabia como tinha sido a vida das minhas avós e bisavós.
E sentia-me com alguma soberba ao comparar a minha vida com a delas.
Atingi a formação e a autonomia com que elas não sonharam.
Hoje vejo que, apesar do ganho ser evidente, também houve perdas e que a última vantagem: a autonomia, a independência, a liberdade é muito aparente.
Antigamente, as mulheres tinham de ser perfeitas donas de casa, mesmo que não sentissem dentro de si o apelo e vocação para tal.
Uma ida à praia implicava uma tarde na cozinha.
Era exigente?
Era, sobretudo se não havia uma apetência especial pelos tachos.
E, hoje, temos uma vida menos exigente?
Espera-se menos perfeição das tarefas da profissional, mãe, ser social, mulher?
De tal forma andamos mergulhadas nas tarefas urgentíssimas que passar uma tarde na cozinha é impossível, mesmo que haja uma apetência natural pelos temperos e aromas do mundo culinário.
Significa que queira voltar aos anos 30?
Não.
Significa apenas que queria viver em 2013 mais devagar, com menos exigências e, sobretudo, com direito de opção.
Atingir a Liberdade é poder escolher.
E desse ponto de vista estamos muito longe de alcançar a Liberdade, enquanto mulheres e enquanto seres humanos.
Se me apetecesse preparar uma ida à praia com todos os requintes, isso devia ser permitido.
Se eu desejasse ficar entre a sala e a cozinha, essa opção devia ser facilitada, permitida e bem vista.
Em 2013, uma mulher optar por desenvolver uma actividade em casa e investir na formação nos filhos é um tema que continua a ser tabu e uma opção dificultada por toda a sociedade: estrutura e cidadãos.
O que é completamente coerente com a política vigente: quem não é produtivo e não vive pelo dinheiro deve ser cilindrado.
Quanto ao livro do início, a mulher que sou repudia o título, por intuir nas palavras A mulher na sala e na cozinha, a falta de opção.
Mas a mulher que sou repudia com a mesma convicção a falta de opção da mulher do século XXI.