“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).


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A Viagem de Saramago

– O teu Tio vai dar todos os fatos, excepto um, que guardará para a viagem.

– Viagem? Qual viagem? O Tio vai viajar?

– Não… vai usá-lo na última viagem.

Foi com muito espanto que ouvi a minha Tia referir a palavra “viagem” neste contexto, até porque para mim o meu Tio ainda é um homem vigoroso e muito activo.

Mas a verdade é que parece haver uma altura da vida em que se pensa mais no final da “viagem”… mesmo que para todos este ainda esteja, evidentemente, muito longe.

“Viagem”, enquanto metáfora do nosso percurso de vida, está presente no nosso quotidiano e na literatura.

Lembrei-me do conto “A Viagem do Elefante”, de José Saramago.

A Viagem do Elefante Teatro ACERT

José Saramago escreveu-o no fim da vida, depois de ter tido conhecimento de uma impressionante história real:

“O livro narra uma viagem de um elefante que estava em Lisboa, e que tinha vindo da Índia, um elefante asiático que foi oferecido pelo nosso rei D. João III ao arquiduque da Áustria Maximiliano II (seu primo).

Isto passa-se tudo no século XVI, em 1550, 1551, 1552. E, portanto, o elefante tem de fazer essa caminhada, desde Lisboa até Viena, e o que o livro conta é isso, é essa viagem”.

A Viagem do Elefante Teatro ACERT

O duro percurso do elefante e o seu triste destino são uma evidente metáfora da vida humana.

Os livros que lemos interligam-se com os nossos momentos de vida e eu, para ser sincera, há cinco anos, não consegui identificar-me com este elefante.

Faltou-me maturidade.

A Viagem do Elefante Teatro ACERT

Para além disso, tenho uma relação demasiado filial com Saramago:

sinto-me sempre como a neta a quem o Avô (narrador/Saramago) está a contar uma história…

portanto, inconscientemente, sou pequenina e estou ainda longe sequer de atingir metade da minha esperança de vida, o que não é bem verdade…

Para quem já cresceu, viajar com Saramago é duplamente maravilhoso.

A Viagem do Elefante Teatro ACERT

As fotografias são do espectáculo “A Viagem do Elefante” Trigo Limpo Teatro ACERT que está em digressão durante este ano. Passaram pela Figueira e eu fiquei tão impressionada que quero reler o livro.

Parecendo que não, em 5 anos, devo ter crescido alguma coisa…

A Viagem do Elefante Teatro ACERT

 

 

 


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Meninos

Li aqui que, em todo o mundo, apenas 19% dos cargos de administração são ocupados por mulheres.

Em Portugal são 29%.

No nosso país, uma mulher, num quadro superior, ganha 1723 euros; um homem ganha 2520.

Como é que é possível?

Estamos em 39ºlugar no raking mundial dos países mais igualitários, atrás do Ruanda, Filipinas, África do Sul!

Fiquei surpreendida!

Em primeiro lugar está a Islândia, a Finlândia, Noruega e Suécia.

Sem surpresas…

Os valores transmitidos pelos media e perpassados de pais para filhos têm uma grande responsabilidade na sociedade que temos e na que queremos.

Quando temos uma menina connosco, ansiamos mesmo por um futuro diferente.

Mas quando temos um menino, o trabalho não pode ser menor.

Se são  importantes os filmes que vemos com as nossas filhas, não é menos importante o que vemos/falamos com os filhos.

Um dos amiguinhos da Beatriz disse-me que nunca tinha visto a Brave, nem queria ver, porque era filme de menina.

Fiquei admirada:

seleccionar ou rejeitar um filme apenas tendo em conta o sexo do/a protagonista é arrepiante.

De onde vem o preconceito de um menino de 5 anos?

Dos adultos!

Ontem vimos Mulan: uma protagonista, rapariga, à procura de si própria, na época da China Imperial.

Para meninos e para meninas!

Tal como estes!

 


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Reacção

O meu discurso racional e articulado nem sempre é coerente com as minhas reacções mais espontâneas.

Às vezes, o que eu efectivamente sou atropela o que eu julgo ser.

 

Uma história real:

A A. casou com o G. e pareciam felizes,

até que o G. conheceu a irresistível C., 10 anos mais nova.

Ninguém se admirou excessivamente…

Excepto a A.

A A. quis o divórcio.

Algumas admirações…

Pouco depois, a A. “levantou-se” e conheceu o irresistível J., 10 anos mais novo.

Ficaram juntos!

Todos se espantaram.

 

Até eu!

Shame on me!

Sartorialist 2

Imagens de homens e mulheres apaixonantes e (quase) reais no blog The Sartorialist.

Sartorialist

Sartorialist 6

Sartorialist 5


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Leve

Cá em casa já chegámos à conclusão de que temos de pensar todos os dias no nosso peso.

De outra forma, ficamos gorditos.

Adoptamos estratégias diferentes.

Eu prefiro fazer 1000 experiências e encontrar soluções saudáveis.

Até para os gelados!

Gelado de pêssego super light

Com 0,5 kg de pêssego (pesado depois de descascado e descaroçado);

4 colheres de sopa de açúcar de coco (mas podem ser 2 colheres de mascavado ou amarelo);

2 colheres de mel;

700g de iogurte grego sem açúcar;

12 bolachas Maria;

50g de chocolate em barra.

Bato o iogurte como se se tratasse de natas (o efeito psicológico começa logo aí);

adiciono o açúcar e o mel;

e o pêssego bem triturado.

Coloco numa taça que suporte temperaturas negativas.

Por fim, polvilho com a bolacha e o chocolate triturados na “1,2,3”.

Vai congelar, mas deve ser retirado meia-hora antes da refeição, pois como tem muita água e pouca gordura é mais duro do que o gelado de natas.

É tão bom como um gelado “a sério”?

Não, mas disfarça muito bem.

A bolacha adoça-o um pouco mais e cria uma textura apetecível.

A grande vantagem: pode comer-se todos os dias!

 

 


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Red

Dia de trabalho.

Caras cinzentas.

Batôn vermelho da Carmen.

Eu hipnotizada.

Carmen, elegante e radiosa, bebe café, fuma, distribui sorrisos e alguns beijos.

Red!

– Queres experimentar?
Adolescente, outra vez, frente ao espelho, a arma contra tanto cinzentismo na mão.
Promessa de rebeldia durante 8 horas!

Corro até Badajoz!

O meu primeiro batôn vermelho.

Christy Turlington 2014Até ao final do século XX, o batôn vermelho era reservado às supermodelos e actrizes.

Até à semana passada, passava-se o mesmo comigo…

Christy Turlington redChristy Turlington, incrível aos 46 anos, mostra que o batôn vermelho é o que falta para animar um look formal!

Christy Turlington, incrível aos 46 anos, arranca suspiros aqui em casa;

suspeito de que mais do que o meu batôn vermelho!

 

 


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Azul da cor do céu

Já gastámos uma lata de tinta azul e ainda há tantos vasos para pintar.

quintal azul

Ambiente zen, numa variação de azul cobalto (ou azul violeta?) e vasos pendurados nos pregos que existem.

Provisório… novamente,

e talvez pelos próximos dez anos!

Entretanto, não há zen que resista a tanto alvoroço e brincadeira.

meninas no pátio

Talvez tenha voltado à noite, quando fizemos uma tenda e nos tapámos com mantas.

É bom ver o planeta Vénus aparecer.

quintal à noite

Recorda-nos que vivemos num planeta… e não no centro do Universo.

 


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O Grande Voo do Pardal

Foi um Verão de histórias e descobertas.

Partilhadas.

Andámos por várias bibliotecas e conseguimos vários livros novos todas as semanas.

O grande voo do pardal capa

O Grande Voo do Pardal foi o grande voo da Beatriz para narrativas mais extensas e complexas.

Eu descobri os livros infantis de Lídia Jorge e redescobri o prazer literário do conto.

O grande voo do pardal 7

O protagonista Henrique Gaspar descobriu que uma casa perfeita, um jardim perfeito, um sofá Divani perfeito não preenchem uma vida.

O grande voo do pardal 9

E descobriu que um coração não se preenche se não se partilhar a vida com outro ser: nem que seja um ser aparentemente com “penas enxovalhadas, cinzento encardido […] irrequieto, glutão, atrevido”.

O grande voo do pardal 15

Antes de afastar o “montinho de penas”, invasor do jardim perfeito, com um “piparote” sente um baque no coração:

“Uma perna só! Oh! Pobre pardalinho!”

O grande voo do pardal 19

O Perna Só instala-se na casa perfeita e as lições sucedem-se para Henrique Galvão.

O grande voo do pardal 21

Valores como compaixão, altruísmo, amizade e liberdade perpassam o livro.

As ilustrações de Inês de Oliveira revelam esses valores de forma extraordinária: não me canso de apreciar as ilustrações.

O grande voo do pardal 25

A Beatriz, na véspera da devolução do livro, pediu-me para o comprar.

Eu só precisava de uma desculpa para voltar às compras dos livros infantis, mas penso que será muito lido por nós e um excelente mote para discutir questões profundas que a Beatriz ainda não tem capacidade para problematizar.

Editora: D.Quixote.

 

 

 


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Novo exterior

Depois de ter sido atingida pelo espírito alentejano, tive de dedicar-me às pinturas de Verão.

Quintal alentejano caiado

Tudo com tinta branca, porque não tenho a resistência das alentejanas que ainda usam cal.

Espero que a tinta seja mais duradoura e as longas conversas entre as trinchas e as paredes intermináveis do meu quintal só se repitam daqui a 5 ou 6 anos.

escadaria alentejana

Entretanto as conversas entre humanos continuam ao entardecer, num espaço ainda provisório mas mais acolhedor.

pátio alentejano na cidade

As notas de cor azul: para os vasos, chuveiro e tanque, aguardam um novo fôlego que há-de chegar; na pior das hipóteses, no próximo Verão.

As plantas estão neste triste estado, depois de um Verão anormalmente quente…

Seja como for, o must dos serões continua a ser o bolo escondido.

bolo no exterior


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Exterior

Eu e a minha prima temos uma “private joke” que consiste em dizer “espaço exterior”.

Não dizemos pátio, nem terraço, nem varandim, nem açoteia.

Usamos a terminologia dos sites de decoração.

E rimo-nos do que não tem graça para mais ninguém, como se ainda andássemos as duas na secundária ou na faculdade, enquanto falamos, como “senhoras” que insistem em chamar-nos, de tintas, vasos, almofadas e tapetes… do espaço exterior.

Ora o meu espaço exterior é muito vivido ao fim do dia, para sentirmos a brisa fresca do início da noite, para fugirmos dos ecrãs, para olharmos para as estrelas e para só ouvirmos as nossas vozes.

Decidimos não comprar mobiliário e vasculhámos o sótão: encontrámos umas cadeiras antigas de praia.

espaço exterior antes da remodelação

comer bolo no exterior

Estava minimamente agradável, mas a precisar urgentemente de uma das actividades de Verão preferidas do Alentejo: ser caiado.

vasos com giz

E foi assim que desceu em mim um espírito alentejano e passei uns dias das férias a pintar um quintal com paredes intermináveis.

Acho que depois desta empreitada e da do ano passado estou praticamente apta a caiar uns montes alentejanos… pequeninos, para já.

No próximo post, publico as fotos do quintal novo: ainda ando a recuperar os pulsos…

 

 

 

 


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Constatações estivais

Com a cabeça anormalmente livre, ganhei espaço mental para constatações óbvias e inúteis:

– Os portugueses precisam de fazer dieta – com tantos corpos despidos à minha frente, é óbvio que a grande maioria ficaria melhor com menos 5kg.

Gato gordo gato magro The Tpsy Turvy Book

Muitos ficariam melhor se perdessem 10kg e vários podiam perder 15 ou 20kg.

Eu pertenço ao primeiro grupo!

– As pessoas ficam mais tranquilas e felizes quando têm tempo e o mar pela frente assim como o sorriso daqueles que amam.

É óbvio que ninguém quer saber da nossa felicidade, apesar de estar comprovado que um trabalhador feliz é muito mais produtivo.

Money The Topsy Turvy Book

– Há muitas pronúncias afectadas  que tratam os filhos por “você”, falam alto e são pouco gentis.

São apenas algumas das incongruências humanas…

simpatia de crocodilo

– Há crianças de 5 anos encantadoras e amáveis e outras já maliciosos.

De onde vem o Mal e o Bem?

Ou residem mesmo dentro de nós e alguns nunca conseguem/conseguirão domar o primeiro?

Don´t forget to love The Topsy Turvy Book

– As pernas bronzeadas parecem mais magras.

Oxalá esta ilusão de óptica se prolongue para além do Verão!

Beatrice ilustradora

– De fato de banho fico muito mais composta entre mergulhos, infelizmente na areia sinto-me demasiado…

composta!

– As praias de difícil acesso do sotavento algarvio são paradisíacas; as outras são como as passadeiras das cidades com o sinal verde; no sul de Espanha ainda é pior.

Todas as imagens são da ilustradora Beatrice Alemagna… e o post ficou com outro interesse.