“Não quero ter razão, quero ser feliz!”
Já há uns anos li uma entrevista de Ferreira Gullar.
Contava que, um dia, tinha combinado ir ao cinema com a namorada.
Ainda em casa dele, inicia-se uma discussão.
Gullar sabia que os seus argumentos eram válidos e insistiu no seu ponto de vista.
A namorada enfureceu-se e bateu com a porta.
Ferreira Gullar ficou em casa, cheio de razão, mas sozinho e com o programa anulado.
Foi na sequência deste trivial acontecimento que chegou a uma das conclusões mais lúcidas da sua vida:
“Eu não quero ter razão, eu quero ser feliz!”
Por todo o lado há cada vez mais pessoas tão cheias de certezas e tão prontas a impô-las a quem quer que lhes passe pela frente!
É cansativo e saturante ouvi-las.
Eu também tenho as minhas tentações, mas ando a treinar-me.
Na maior parte das vezes, não vale a pena falar com quem não quer ouvir;
mas também não vale a pena ouvir quem só quer falar.
Na sua sabedoria, Gullar escreveu o poema “Cantiga para não morrer”.
Tão simples, belo e verdadeiro.
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Imagem: IGNANT.
Gostar disto:
Gosto Carregando...