“Le souvenir est le parfum de l´âme” – (George Sand).

Mitos de ouro

2 comentários

A espécie humana é a espécie que necessita de histórias para viver.

Acordados, prestes a adormecer ou a dormir, brilhamos com narrativas simples ou elaboradas, cómicas ou trágicas. Durante o sono, somos todos autores e criamo-las para o nosso cérebro continuar reluzente e nos proporcionar uma noite pausada, a partir de sonhos originais e emocionantes.

Bem despertos, tecemos as nossas narrativas pessoais e, também por isso, é tão difícil apurar a verdade acerca de um acontecimento: mesmo nos mais anódinos episódios familiares ou amorosos, cada um guarda a sua versão. Raramente coincidem.

Yuval Noah Harari defende que foi esse nosso impulso narrativo que nos fez evoluir: ao falarmos da vida dos outros, criámos laços e aliados que nos fizeram aperfeiçoar o trabalho em equipa e o espírito de grupo. A elaboração de mitos coletivos permitiu, inclusivamente, que nos organizássemos em cidades e nações.

As narrativas mitológicas greco-romanas são responsáveis por esculturas e quadros. Influenciram também a joalharia.

Em 1900, René Lalique, inspirou-se no rapto da belíssima Dejanira pelo centauro Nesso. O marido, Héracles (Hércules para os latinos), salvou-a, mas mais tarde apaixona-se por Íole e abandona Dejanira. A guerreira usa o “filtro do amor” oferecido pelo centauro Nesso para reconquistar Héracles. Claro que nunca devemos confiar em centauros: não era uma poção afrodisíaca! Esta droga, colocada na túnica de Héracles, provocou-lhe uma queimadura que o devorou e o conduziu ao suicídio. Dejanira, ao ver o que sucedeu ao amado, também se suicida. No entanto, Héracles é arrebatado para o céu, como recompensa pelos seus doze trabalhos. Quanto a Dejanira ficou com Lalique e ainda está em Lisboa.

Calouste Gulbenkian ficou tão impressinado com a a peça de René Lalique que a adquiriu em 1903.

Mais antigos são os brincos – cerca de 330–300 a.C. – que representam o rapto do pastor Ganimedes, sobrinho de Cleópatra. Um jovem tão belo que Zeus não lhe resistiu: transformou-se em águia e raptou-o, tendo-o tornado escanção da sua dose diária de néctar.

Para compensar o pai de Gaminedes, Zeus oferece-lhe cavalos divinos ou uma cepa de ouro.

Para apreciarmos esta obra grega já temos de viajar até Nova Iorque, uma vez que estas relíquias se encontram no MET – The Metropolitan Museum of Art.

Eu soube da existência destas delicadas peças através do professor José Pedro Serra e do seu programa Mythos, ainda disponível aqui.

As peças de joalharia que se podem ainda imaginar com Deméter e Perséfone, que finalmente nos trouxeram a Primavera! Com Circe e Medusa! Ou com Cassandra e Apolo!

Autor: Frasco de Memórias

http://frascodememorias.com

2 thoughts on “Mitos de ouro

  1. Adoro os mitos gregos e suas explicações tão comuns do nosso tempo após tantos e tanos anos, mas achei um desaforo dizer que não se dever confiar em Centauros, oras… hahahahaha

    Meu Centauro de estimação ficou magoado.

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